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Os efeitos da COVID-19 no fluxo de caixa das empresas brasileiras

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Como a Tesouraria das empresas está reagindo ao cenário econômico atual?

 Por Fernando Caritá e Danilo Pereira

Após os primeiros efeitos do surto do vírus COVID-19 no Brasil e no mundo, o cenário econômico tem mudado e continuará mudando constantemente nas próximas semanas. Estamos diante de um cenário onde nem os testes de estresse mais conservadores previam um impacto global tão profundo se materializando em uma janela temporal tão curta e os impactos na economia podem igualar ou até superar a magnitude observada na crise de 2008

Esse cenário impõe um desafio não usual ao caixa de curto prazo das companhias, porque envolve uma rápida deterioração do fluxo de receitas das empresas, pouca elasticidade na administração dos custos e despesas fixas, e insegurança do setor bancário em conceder linhas de crédito. Os governos estão buscando alternativas para gerar maior liquidez ao mercado, mas a velocidade com que as soluções chegam na ponta final da cadeia nem sempre acompanha o ritmo das Tesourarias corporativas. As condições de prazos e taxas para as captações também parecem ter mudado radicalmente, o que contribui ainda mais para aumento do clima de tensão. Certamente não é fácil manter a resiliência financeira em tempos difíceis como esses.

Os bancos possuem caixa para oferecer crédito turbinados com medidas que foram tomadas pelo Banco Central equivalente a 16,7% do PIB em injeção de liquidez no sistema financeiro. Em 2008, medidas de liquidez tinham impacto de 3,5% do PIB  comparativamente. Ainda assim, os modelos de precificação das operações inevitavelmente capturam a deterioração do cenário econômico e do risco individual dos setores e clientes, aumentando a probabilidade de default, o que acaba se refletindo diretamente nos spreads e na estratégia de liberação de crédito.

As agências de rating já compactuam com essa deterioração e devem iniciar no curto prazo uma onda de reavaliação de riscos soberanos, corporativos e de instituições financeiras com possível downgrade e mudanças para outlook negativo ainda maior do que foi visto na crise de 2008.  Em tempos de crise, participantes do mercado buscam um entendimento do racional do cenário atual, mas na dúvida opta-se pela solução mais conservadora (“wait and see”).

Embora a crise tenha se materializado economicamente há poucas semanas, parece não haver mais esperança para o PIB desse ano. Os economistas das principais instituições financeiras do país já trabalham com projeções negativas para 2020. Especialmente porque a agenda política do país também parece incapaz de gerar algum otimismo nas principais reformas para esse ano. A menor atividade econômica afetará negativamente as taxas de desemprego e renda e, como consequência, o desempenho das concessões de crédito ao varejo. Levando-se em consideração que a primeira onda de impacto econômico foi sentida do lado da oferta, com restrição de movimentação/acesso, e choque na cadeia de suprimentos principalmente vinda dos grandes centros mundiais de oferta (China, EUA, Alemanha e Japão), a segunda onda esperada virá do lado da demanda com efeito direto no Brasil sobre serviços, correspondente a 63% do PIB.

O momento é crítico, mas os tesoureiros e diretores financeiros precisam buscar um profundo alinhamento interno com a liderança da empresas. A solução ideal para cada caso passa por uma avaliação detalhada do contexto de todo o negócio, revisão de projetos futuros e um tempo maior de retorno sobre projetos em andamento, revisão de investimentos em ativos fixos, e um olhar mais criativo para as demandas que a sociedade está gerando neste momento. De qualquer maneira, haverá um impacto no fluxo de caixa das companhias no curto prazo estressando a liquidez por no mínimo 6 meses até que se tenha um outro panorama da situação atual.

Como alternativa à falta de liquidez, as companhias deverão buscar produtos financeiros que visam financiar o lado passivo (liability management) para trazer alívio imediato no contas a pagar, já que a renovação de crédito deve ficar mais criteriosa e encarecida, ou até mesmo buscar alongamento de prazos junto a seus fornecedores, pois já existe um ambiente favorável a isso. Essa crise é marcada pela velocidade, tanto da proliferação do vírus como dos fatos e consequências relacionados ao tema. Dessa forma, as companhias devem ser capazes de reagir rapidamente às mudanças de cenário, considerando as informações disponíveis.

A comunicação entre as diferentes áreas e níveis hierárquicos precisa fluir de forma construtiva e assertiva. Os relatórios gerenciais precisam ser capazes de simular diferentes cenários e perspectivas, e visões estáticas baseadas em comportamentos conhecidos não serão capazes de capturar a complexidade do momento que vivemos.

Além disso, não podemos esquecer de cuidarmos das nossas pessoas. Essa crise afeta pessoalmente e profissionalmente todos os membros da equipe, e muitos serão desafiados ao extremo. Não sabemos exatamente quanto tempo essa jornada levará mas sabemos que o contexto atual desafiará a sanidade de muitos. Os times precisam se manter unidos e colaborativos para que todos consigam atravessar esse momento. E dentro dessa perspectiva, técnicas de mindfullness podem ajudar a lidar com a pressão e estresse com mais tranquilidade.

Fernando Caritá é diretor executivo de Advisory Services – Risk da EY, e Danilo Pereira é gerente de tesouraria da General Electric, ambos membros da Comissão Técnica de Tesouraria e Riscos do IBEF-SP

 

 

 

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