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Operações de M&A devem ser adiadas para 2019, estima sócio da Deloitte

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A Comissão de Mercado de Capitais e RI realizou, no último dia 25 de julho, um Webinar sobre “Os destaques das operações de M&A no Brasil no primeiro semestre de 2018”. O evento contou com a participação de Reinaldo Grasson, sócio de M&A e Debt Advisory da Deloitte, que foi entrevistado por Felipe Chimenti, associado da BR Finance e membro da comissão.

Com mais de 20 anos de experiência nesse setor, Grasson mostrou-se otimista ao cenário brasileiro: “Acredito que muitos investimentos deste ano não foram cancelados, pois o Brasil continua atrativo aos investidores, que simplesmente postergaram para 2019 as operações, quando será definida a agenda do novo presidente do País”.

O executivo explica que, principalmente em função de algumas incertezas e das dúvidas sobre os resultados das eleições de outubro, as operações ficarão abaixo das realizadas em 2017. Em todo o ano passado, foram concretizadas 1.108 fusões e aquisições. No primeiro semestre deste ano, foram 415. “Historicamente, o segundo semestre é mais forte que o primeiro. Mas, em função dos números que já temos, é muito difícil achar que o segundo semestre compensará a retração do primeiro”.

Em relação aos IPOs, foram 10 em 2017 e três no primeiro semestre de 2018. “Das 13 emissões canceladas de IPO, há operações de oito empresas que devem ocorrer no ano que vem, sem contar as outras que estão sendo preparadas. O mesmo acontece com as operações de M&A. Os investidores estão fazendo as análises e, assim que o cenário estiver mais claro, devem ocorrer as transações. Os fundos estão líquidos para investir. O Brasil está com uma série de predicados e, apesar dessa turbulência recente, não vão deixar de existir”, declara.

Cenário de 2018 – O executivo diz que, apesar de o Brasil ter começado o ano bem, com três operações de IPO no primeiro quadrimestre, o que sinalizava um ano importante, o cenário foi mudando. “Ao longo do semestre, passamos a ter uma retração, especialmente por fatores internos como a greve dos caminhoneiros, além da reavaliação do PIB para menor – de um crescimento de 2% para 1,5% -, o mercado doméstico ainda não ter reagido da forma como se esperava e da incerteza no cenário eleitoral.”

Além disso, também há os fatores externos, como a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, que começou em função do aço, mas agora atinge outros produtos e mercados e, ainda, a perspectiva de aumento dos juros nos Estados Unidos, o que atrai recursos para aquele país. “Então, temos um acúmulo de fatores”.

Para Grasson, o mercado de IPO é extremamente importante para as operações de M&A. Ele explica que a injeção de recursos na economia favorece o mercado de capitais e, consequentemente, beneficia o movimento de fusões e aquisições. No primeiro semestre deste ano, foram três operações de IPO: Hapvida, Notre Dame Intermédica e Banco Inter – duas empresas da área de saúde e uma do setor financeiro respectivamente.

“Em 2017, foram 10 operações, majoritariamente concentradas em setores como saúde, serviços financeiros, alimentos, entre outros, que são fundamentalmente voltados ao mercado doméstico, que tem atraído mais a atenção do investidor porque são mais inelásticos e mais resilientes”, diz o executivo, ao destacar, ainda, os setores de educação e TI, também ligados ao consumo doméstico.

 

 

Para o executivo, há quesitos positivos na economia que ressaltam essa aposta em consumo no mercado doméstico. “Os juros começaram a cair. Em 2015, estava acima de 14%, hoje está em 6,5%. Houve uma queda expressiva. A inflação está dentro da meta e o desemprego estável. Porém, a economia ainda não está reativa. Mas com esses fatores houve uma redução do endividamento das famílias, ou seja, sobra mais dinheiro no bolso dos brasileiros para consumir, o que favorece as empresas desses segmentos”.

Apetite chinês – Quando questionado sobre o interesse dos chineses pela compra de empresas brasileiras, como ocorreu recentemente com a 99 (empresa de transporte com uso de app) e o TCP (Terminal de Contêineres de Paranaguá), Grasson diz que essa é uma tendência não apenas no Brasil como no mundo todo.

“Os chineses estão se globalizando e comprando empresas nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil também. Essa é uma estratégia de governo e vai fazer parte do nosso cotidiano. Nos últimos 15 anos, os chineses investiram cerca de US$ 54 bilhões, sendo que 85% desse valor, cerca de R$ 46 bilhões, foram destinados a setores de oil & gas, energia, mineração. Agora começam a diversificar investimentos em outros setores econômicos, como a recente aquisição da Guide Investimentos pela chinesa Fosun, além de operações na área de agronegócio, saúde, distribuição, ensino superior, setor automotivo Estão entrando nessa área de mercado local, como varejo, e-commerce, serviços e essa é uma tendência que veio para ficar. Isso é importante para o Brasil, pois os chineses têm muito capital para investir”.

Fundo private equity e investidores estratégicos – Ao ser questionado sobre quais as diferentes motivações desses dois perfis, Grasson diz que há dois tipos de investidores estratégicos: o que está no Brasil e o que está no exterior. O sediado no País busca ganho de escala e de margem, aumento de market share ou ainda a compra de uma marca para completar o portfólio ou para acessar canais de distribuição. Ou seja, são motivações para dar mais competitividade no mercado local.

Por outro lado, os investidores estrangeiros que adquirem empresas brasileiras buscam acessar o mercado doméstico brasileiro, que é importante, pois conta com um PIB de US$ 2 trilhões, mais de 210 milhões de habitantes e uma população jovem e com potencial de crescimento. “Para quem vem de fora é muito mais fácil comprar uma empresa estabelecida do que começar do zero. A companhia instalada já conhece o sistema fiscal, trabalhista, entre outras questões locais”.

Felipe Chimenti questionou por que a participação de fundos de private equity ainda é irrisória em M&A, já que detêm capital. No ano passado, por exemplo, representou 22% e, no primeiro semestre deste ano, 16%.  Segundo Grasson, esses fundos muitas vezes investem em empresas fechadas e não é dada muita publicidade. Além disso, as fontes públicas capturam parte desses investimentos. “Se for incluir essas operações, a participação será maior”

Grasson diz que os fundos de private equity também costumam buscar startups com modelos de negócios diferenciados e sustentáveis a longo do tempo. “Basicamente olham os empreendedores, a gestão e o modelo de negócio. Precisam de storytelling, pois por definição, startup não tem geração de caixa e receita fortes. Você está vendendo uma história de futuro”, aconselha o executivo, lembrando que os fundos de private equity terão um papel muito importante para o Brasil nos próximos anos. “Eles têm liquidez para fazer investimentos e consolidação de empresas”, ressalta.

Este foi o primeiro Webinar da Comissão de Mercado de Capitais e RI e contou com o apoio da Levante, empresa especializada ao apoio na decisão de investimentos.

 

(Reportagem: Renata Passos)

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