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Novos desafios para os profissionais de tax

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Atuação dos tributaristas ganha cada vez mais importância dentro das companhias, o que exige o aprimoramento de técnicas de comunicação e habilidade para lidar com as novas tecnologias.

Executivos convidados para o painel

Aquela figura do advogado tributarista sentado no fundo do departamento Jurídico, com os olhos colados na tela do computador, formulando estratégias para diminuir a carga de impostos das empresas ficou no passado. Nos últimos cinco anos, essa função ganhou destaque dentro das empresas ao passar por uma ferrenha metamorfose. O profissional é cada vez mais desafiado a deixar os bastidores e participar da gestão estratégica do negócio, na linha de frente.

“Hoje os tributaristas se relacionam tanto com funcionários de outros departamentos como com stakeholders de fora, como clientes e órgãos reguladores”, pontuou Durval Portela, sócio líder da área de Consultoria Tributária e Societária da PwC, ao inaugurar a mediação do painel de discussão sobre a carreira do profissional tributário, realizado pela Comissão Técnica de Tributos do IBEF SP na última terça-feira (14).

Em movimento semelhante a carreira do CFO, que agrega cada vez mais atividades se aproximando da dinâmica de trabalho do CEO, a atuação do tributarista hoje se avizinha a do líder de finanças. O profissional de tax migrou do back office para o front office das companhias e agregou diversas funções à sua antiga rotina. Além de participar das ações de compliance, ele passou a avaliar também o risco da imagem da empresa, além de participar do processo de formulação de produtos e ser peça-chave em reuniões com parceiros e clientes.

Essa mudança traz uma série de desafios. Um dos principais é a capacidade de se comunicar, o que engloba a competência de falar inglês e, se possível, mais um idioma.

“A capacidade de se comunicar é cada vez mais relevante. Uma regra de substituição tributária que impacta a cadeia de produção toda, por exemplo, precisa ser explicada para os demais departamentos da companhia, o que exige do advogado a arte de traduzir a legislação para uma linguagem inteligível¨, afirmou Helena Pécora, CFO da multinacional do ramo farmacêutico Eli Lilly, onde lidera a equipe do Jurídico.

Meily Franco, líder da Comissão de Tributos do IBEF SP

O tributarista tem sido cada vez mais chamado a participar de reuniões com clientes ou parceiros para ajudar a convencê-los, com argumentos jurídicos, sobre a importância da implementação de algum projeto ou a relevância de um produto. Ter o inglês fluente é praticamente obrigatório, observou a CFO.

Na avaliação de Alessandra Vieira, head da área tributária da Claro Brasil, é essencial convencer o acionista sobre a necessidade de implementação de compliance. “O profissional de tax tem de fazer esse papel com frequência. É sempre importante acrescentar dados aos fatos para ter êxito no processo de construção de alianças”, destacou.

Tecnologia
Em meio ao movimento de mudança da rotina de trabalho, a implementação de tecnologia nos processos tanto auxilia os tributaristas ao oferecer mais subsídios para análise, quanto os desafiam a entender a dinâmica dessa nova realidade.

Uma das mudanças mais relevantes é a implementação de bancos de dados inteligentes, que não somente armazenam, como também processam as informações. Para Alessandra, essa é uma oportunidade que os profissionais têm de melhorar a performance. “O tributarista conta com dados mais precisos para analisar e tem, portanto, mais subsídio para promover soluções e elaborar sugestões ao negócio. Nós demos um salto quântico ao sair do operacional e ir para esse lado analítico. Estamos todo o tempo estimulando a equipe a estudar para se adaptar a essa nova realidade”, disse.

Durval Portela, sócio líder da área de consultoria tributária e societária da PwC

Helena ressaltou que a tecnologia bem utilizada tem o poder de diminuir a margem de erros. “Para ajudar o profissional a migrar do operacional para essa rotina de análise, é preciso envolvê-lo em discussões, painéis e todo o tipo de encontro que os induza a formular uma visão panorâmica do negócio. É preciso otimizar essa visão gerencial. Fazemos sempre treinamento sobre o planejamento financeiro para mostrar à equipe quais são os objetivos a serem perseguidos. Nosso papel de liderança é sempre valorizar o colaborador”.

Alessandra reforçou a ideia de que a tecnologia é também uma aliada para o profissional de tax ter mais subsídios para propor modificações em questões estratégicas do negócio, como a criação de um produto, além de auxiliar na antecipação de problemas. “Hoje conseguimos prever futuros problemas de maneira mais assertiva com o apoio dos bancos de dados inteligentes. E assim temos argumentos para interferir em iniciativas globais da companhia. Em resumo, somos mais escutados”.

Carreira
A questão preditiva é a agenda do momento: “estar à frente faz uma grande diferença”, reforçou Portela. No entanto, todas essas demandas das companhias em relação a atividade do tributarista se formaram tão rapidamente que a maioria dos profissionais ainda não estão aptos tecnicamente para enfrentá-las. Esse cenário se reflete na escassez de tributaristas com esse perfil mais dinâmico no mercado.

Helena Pécora, CFO da Eli Lilly,

Tomas Jafet, gerente executivo da Michael Page, empresa especializada no recrutamento e seleção de executivos de média e alta gerência, resume a dificuldade em uma brincadeira. “O perfil de profissional de tax exigido pelas empresas faz com que busquemos moscas albinas”, observou com bom humor. “É um processo bem difícil. Por vezes mandamos cinco listas até encontrar uma pessoa que esteja dentro do perfil estabelecido pela empresa. Acredito que o maior desafio é encontrar um profissional da área técnica que saiba se comunicar bem”.

Jafet indicou a prática de coaching para auxiliar a desconstruir e reconstruir a maneira de se comunicar. “Estou me referindo também ao marketing pessoal, que sempre foi deixado de lado. A habilidade de saber se vender é imprescindível, pois traz confiança. E o direito tributário é uma área baseada em confiança”.

Outro movimento comum nessa carreira tem sido a bifurcação. O advogado tributarista muitas vezes acaba migrando sem um planejamento específico para a área de tecnologia no intuito de atender às demandas relacionadas à gerência de bancos de dados. “Muitos profissionais que participam de projetos grandes focados em iniciativas tecnológicas acabam migrando de área, o que pode ser nocivo para a carreira. É preciso dosar a dedicação à tecnologia, pois ainda estamos entendendo como esse movimento vai influenciar na trajetória profissional “, afirmou o headhunter.

Alessandra Vieira, head da área tributária da Claro Brasil

Portela destacou que na PwC é crescente a busca por trainees que entendam de tecnologia. “O que não é difícil, pois os profissionais dessa últimas gerações pensam de forma orgânica com cabeça tecnológica”, destaca.

Cultura
Alinhar a cultura da empresa com o perfil do profissional nunca é uma tarefa fácil para os recrutadores. Jafet ressaltou que é muito difícil fazer com que um profissional se adapte à cultura de uma companhia, caso essa esteja muito distante de seu universo.

“Poucas vezes vi um ser humano mudar a natureza. Não adianta o profissional ter um perfil técnico coerente com o que é buscado pela companhia, mas não se identificar com a cultura. Se houver uma contratação com essa dinâmica, estamos formando um problema no médio prazo”, observou o executivo da Michael Page. E aconselhou: “é importante dosar muito bem o rumo da carreira para não entrar e sair de empresas a cada seis meses. É imprescindível verificar também a reputação da companhia em que pretende trabalhar. Todas as dúvidas quanto a essas questões devem ser clareadas em meio ao processo seletivo”.

Tomas Jafet, gerente executivo da Michael Page

Helena ponderou, entretanto, que existe um movimento no mercado de as empresas buscarem profissionais com um perfil díspar em relação à cultura da companhia. “Tenho observado a busca das empresas por diversificar o quadro de funcionários, então às vezes um profissional fora da caixa pode contribuir para o equilíbrio de uma equipe. Só tem uma coisa que não é negociável: a questão ética”.

Todas as questões discutidas no painel podem ser resumidas em um único ponto, de acordo com Jafet. “A carreira dos tributaristas foi esticada, o que significa que as empresas passaram a entender que esse profissional pode ser adaptado a outras funções. Há um movimento natural de migração para o cargo de CFO. O profissional de tax tem cada vez mais visibilidade – e portanto oportunidade – dentro das companhias. Mas como qualquer outra área, existe um funil. Portanto, quem deseja aproveitar esse momento favorável deve buscar se aprimorar para estar apto a aproveitar uma eventual oportunidade”, concluiu.


(Reportagem: Priscilla Arroyo / Fotos: Mario Palhares)

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