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IBEF-SP promove primeira edição do CFO Arena com debates sobre economia, mercado, liderança e transformação nas empresas

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Cenário econômico, o momento e as oportunidades do mercado de capitais no Brasil, os desafios de CEOs e CFOs e o papel transformador da liderança. Esses foram os temas que ganharam destaque na primeira edição do CFO Arena, realizado pelo IBEF-SP e pela B3, com o apoio do IBGC. O evento aconteceu no dia 23 de novembro e reuniu lideranças de destaque do mercado na Arena B3, em São Paulo.

“Queria reconhecer o trabalho que temos desenvolvido junto à B3. Tínhamos muitos sonhos em conjunto e este é um deles. Temos ainda vários projetos em desenvolvimento, por isso é um prazer estar aqui hoje”, afirmou Magali Leite, presidente da Diretoria Executiva do IBEF-SP e CFO da Espaçolaser, que também agradeceu a Rafaela Vesterman, gerente de relacionamento da B3, pelas ações em conjunto.

Marcelo Bacci, presidente do Conselho de Administração do IBEF-SP e CFO da Suzano, aproveitou para elogiar a proposta do evento e agradecer a parceria com a B3. “Este é um evento diferente dos que costumamos fazer, com a presença de alguns CEOs para ter uma perspectiva diferente sobre os temas com que lidamos no dia a dia”, disse Marcelo Bacci.

Rafaela Vesterman também celebrou a parceria entre a B3 e o Instituto. “A B3 é parceira do IBEF-SP há muitos anos e este é o primeiro evento que fazemos em conjunto. Espero que seja o primeiro de muitos que queremos realizar. Cada vez mais, como B3, queremos promover fóruns como este para ter trocas e discussões. Já temos isso em nosso programa conexões de valor e queremos fazê-lo cada vez mais junto com o IBEF-SP”, salientou.

Inflação controlada e juros dos EUA

A primeira parte do evento contou com uma análise detalhada do cenário econômico nacional e internacional, apresentada por Caio Megale, economista chefe da XP, que destacou o ano de grandes “montanhas-russas” do mercado, com desempenho muito positivo até julho e abaixo do esperado no restante do ano. Em um cenário marcado por guerra entre Rússia e Ucrânia, conflitos no Oriente Médio e desaceleração da China, o economista ressaltou que a preocupação com a inflação ainda norteou a economia global, levando a uma alta generalizada nos juros. No entanto, Caio apontou que o reequilíbrio veio mais rápido que o esperado.

“No início de 2023, a maioria dos países abriu para transações de comércio internacional. Os preços diminuíram e as coisas voltaram a funcionar. O FED subiu os juros de 0% para 5% e ninguém quebrou, tirando um ou outro banco, mas sem nenhum problema estrutural. As moedas dos países emergentes se valorizaram, o que mostram que este reequilíbrio era necessário, foi rápido e deu certo”, analisou o economista.

Com os dados de inflação do Brasil, EUA e Alemanha, Megale reforçou que o ciclo de alta dos juros terminou nas principais economias, salientando a expectativa para início do corte de juros do FED a partir do próximo semestre. No entanto, ele apontou que a principal preocupação para os mercados é a percepção de qual será a taxa de juros estrutural dos EUA nos próximos anos.

“Isso não tem a ver com curto prazo, mas com a estrutura da economia americana e com déficits fiscais, que eram 0,5% antes da pandemia e são de 4% agora. Essa alta de juros nos EUA foi estrutural e permanente e avaliamos que não voltará mais para o patamar de 2% a 2,5%. A boa notícia é que parece que o movimento é de 2,5% a 4,5%, e não de 6% ou 7%, como se chegou a falar. Este é um risco importante que temos pela frente”, explicou Megale.

O economista ainda falou sobre o cenário de balança comercial positiva no Brasil, as pressões sobre as contas públicas e a expectativa de um dólar na casa dos R$ 4,70 no próximo ano.

Painel Cenário Econômico

Após a apresentação, o CFO Arena promoveu um painel sobre o cenário econômico e o mercado de capitais, que reuniu Caio Megale, João Pedro Nascimento, presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e Rogério Santana, diretor de Relacionamento com Clientes e Governança em Licitações da B3. A mediação foi de Magali Leite.

Rogério Santana iniciou o debate falando sobre os desafios de fomentar o acesso de empresas menores ao mercado de capitais, que de acordo com ele, passa por duas etapas: aculturar o investidor e desenvolver o mercado para que estes ativos possam surgir como opção de diversificação para os investidores.

“O risco de mercado o investidor não controla. O do negócio ele pode fazer um processo de análise. Mas o de liquidez é uma escolha. É natural que neste momento de retomada do mercado ele seja bem seletivo, buscando empresas e ofertas maiores, com ativos de mais liquidez. Conforme o mercado vai se desenvolvendo e entram mais recursos nos fundos, os investidores começarão a olhar para ofertas menores”, analisou Santana.

O diretor lembrou que este processo começou a ocorrer antes da pandemia, com a entrada no mercado de empresas com faturamento inferior a R$ 100 milhões por ano e IPOs abaixo dos R$ 500 milhões. Com o fechamento do mercado nos últimos anos, em decorrência dos efeitos da pandemia, este cenário ficou mais difícil, mas Rogério destacou as iniciativas adotadas para estimular a sua retomada.

“Temos tentado cativar e desenvolver uma indústria de investimento que entenda este risco de liquidez e o retorno que ele pode trazer, desenvolver fundos de small caps, atrair mais pessoas físicas e continuar trabalhando para trazer este público disposto a investir em empresas menores, que vão se desenvolver com o mercado de capitais. Do lado da oferta, trabalhamos para tornar a vida de uma empresa de capital aberto mais barata, preservando a governança, mas reduzindo o custo de observância”, completou. Rogério ainda citou o mercado de dívida e securitização, como debêntures, CRIs, CRAs e Notas Comerciais, que estão retomando e surgem como boas oportunidades.

Caio Megale contribuiu com o debate trazendo as perspectivas da economia internacional e os impactos no mercado, ressaltando o cenário favorável para o Brasil pelo desempenho da balança comercial e a alta das commodities, mas apontando para um ano de incertezas. O economista também falou sobre o papel do BNDES nessa balança.

“Estaremos relativamente protegidos, mas dentro de um mundo volátil e com temas domésticos que afetam a percepção do mercado de capitais. Uma das alavancas do florescimento mercado nos últimos anos foi a mudança do papel BNDES na economia. Se o papel voltar a ser o que era no passado, com taxas super subsidiadas, teremos uma relação diferente no custo de funding, aí a Selic não cai tanto e o mercado perde atratividade. Estamos longe de cenários negativos, mas será um ano desafiador”, explicou.

Iniciativas da CVM

João Pedro Nascimento, presidente da CVM, aproveitou a participação no painel para destacar as iniciativas realizadas para gerar um cenário de previsibilidade e estabilidade para os investidores. Ele salientou que o cenário econômico atual vem criando uma janela de oportunidades em meio ao crescimento das operações de crédito realizadas por outros intermediários além de bancos, como fundos de investimentos, produtos estruturados e securitização.

“A CVM aproveitou esta janela para fazer uma revisão de seus marcos regulatórios. 2022 e 2023 são anos sem precedentes na quantidade de atividade regulatória”, afirmou João, destacando a revisão dos marcos legais de oferta pública de distribuição de valores mobiliários, dos fundos de investimento e dos assessores de investimento.

O presidente da CVM reforçou ainda a posição favorável do Brasil para captar investimento estrangeiro em relação a outros países emergentes, o que reforça ainda mais a necessidade de ter um mercado estruturado, organizado, compatível com os padrões internacionais. Ele destacou o protagonismo do país em ações ligadas às finanças sustentáveis, à taxonomia sustentável e o desafio de trazer o agronegócio para o mercado de capitais.

Nascimento ressaltou, ainda, a necessidade de democratizar o mercado de capitais por meio da simplificação da jornada do investidor e centralização dos cadastros. “Precisamos simplificar a jornada de investimento para torná-la um ambiente friendly para o investidor. Temos que aumentar a dimensão do nosso mercado para participantes internos e externos. Celebramos hoje o número de 6 milhões de investidores pessoas físicas, mas está muito abaixo do potencial do Brasil. Esse número é tímido e tem que ser maior. Precisamos aumentar essa participação”, completou o presidente da CVM.

Líderes transformadores

O segundo painel do CFO Arena abordou o papel dos líderes transformadores e contou com as participações de Adriana Aroulho, presidente da SAP Brasil, Jeane Tsutsui, presidente do Grupo Fleury, e Elvira Presta, conselheira do IBEF-SP e da Santo Antônio Energia. A mediação do painel foi conduzida por Marcelo Bacci. O painel abordou as mudanças na forma de atuação das empresas ao longo dos últimos anos e o papel das lideranças neste processo.

Adriana Aroulho falou sobre a transição da SAP de uma empresa de produtos para uma empresa de serviços, que passou pelo movimento de migração para a nuvem, acelerado nos últimos dois anos. Para a executiva, essa mudança foi cultural, fazendo com que a empresa parasse de focar só na venda de um software e começasse a partir do processo de implantação e uso dentro das empresas.

“A beleza da nuvem é que conseguimos manter a inovação no tempo, habilitar coisas que não eram possíveis e garantir mais segurança. Há alguns anos, as empresas tinham receio da nuvem por segurança e hoje ela é um dos principais motivos de migração. Os nossos novos clientes já nascem neste modelo de serviço”, afirmou.

Ainda na pauta de inovação, Jeane Tsutsui trouxe um panorama do tema no setor de medicina e saúde, destacando os benefícios, como o aumento da longevidade, mas a necessidade de implantar novos recursos de uma forma adequada, para garantir a sustentabilidade do negócio e acessibilidade. A CEO do Grupo Fleury falou sobre novidades na área de imagem, inteligência artificial, genoma e digitalização de processos. “Hoje a área de saúde passa por um processo de evolução digital, que vai melhorar a experiência do paciente e gerar redução de custos para aumentar o acesso à saúde no país”, afirmou.

Elvira Presta abordou o desafio da transição energética, atentando para a matriz elétrica limpa, renovável e diversificada do Brasil. No entanto, a conselheira destacou o desafio de retirar subsídios desnecessários para alguns setores em um cenário em que a regulação e a legislação não acompanharam a evolução do mercado. “A energia elétrica no Brasil é cara para o consumidor, apesar de todas essas fontes. A população mais rica, por exemplo, se beneficia dos subsídios para investir em energia solar e quando alguém reduz o seu gasto com essa implantação, quem paga a conta é o consumidor cativo, que fica na rede de distribuição. São questões que precisam ser endereçadas para conseguirmos tornar a matriz mais acessível e corrigir as distorções tarifárias”, explicou.

O capitalismo de stakeholders

Marcelo Bacci também participou do painel analisando a necessidade de cada vez mais as empresas olharem para todos os stakeholders e para o seu entorno, antes de tomar decisões. O executivo citou o exemplo recente da OpenAI, em que o CEO retornou à companhia após uma demissão, em meio à reação de diversos stakeholders.

Bacci citou o exemplo da Suzano e o impacto que a empresa tem nas comunidades no entorno de seus projetos, o que cria uma responsabilidade maior na tomada de decisões. “A era de que a empresa faz tudo para maximizar os seus resultados e vender mais deixou de ser suficiente. Nosso papel como executivos e conselheiros mudou em função disso. A complexidade e a abrangência com que temos que olhar para as coisas que fazemos é cada vez maior. As pressões mudam de lugar e não nos vejo voltando ao ambiente simples que tínhamos antes”, analisou.

Agenda de sustentabilidade na tecnologia

Adriana Aroulho falou sobre o papel da empresa desenvolver uma agenda sustentável, que passa pela redução do gasto em datas centers e da parceria com os principais players globais de nuvens e que têm compromisso com energias 100% verdes. “Acreditamos que a agenda de sustentabilidade tem dois pilares, o primeiro de ser exemplo e o segundo de levar esta agenda aos nossos clientes”, frisou.

Fatores de sucesso para M&A

Jeane Tsutsui lembrou a trajetória do Grupo Fleury e as 16 aquisições realizadas desde 2017. A executiva falou sobre os riscos de aquisições e enumerou alguns fatores de sucesso para garantir que elas tenham sucesso. “O primeiro é que o risco de você destruir valor com um M&A é gigante. Então, temos três pilares: o estratégico, pois a aquisição tem que se encaixar na estratégia de posicionamento, o segundo é de avaliação financeira e o terceiro é cultural, pois não é só aquisição, você precisa integrar”, analisou.

Este último pilar é apontado pela CEO como fundamental para o sucesso das aquisições no longo prazo, atentando para a importância de buscar sinergias com os profissionais da empresa que está sendo incorporada. “O que eu trago de aprendizados é o planejamento, a integração de processos e muita atenção às pessoas, pois elas precisam se sentir envolvidas em todo o processo, se sentindo parte deste processo de integração”

Desafio da privatização

Elvira Presta falou um pouco sobre o desafio que capitaneou como CFO da Eletrobras, responsável por estruturar o follow-on que permitiu a desestatização da empresa, agora uma corporação sem controlador definido. A executiva ressaltou a complexidade de atuar em uma estatal. “É um aprendizado a cada dia e a liderança precisa estar aberta. Você não escolhe a sua equipe, pois as pessoas são concursadas. Você tem que liderar as pessoas e ser aceito por elas. Eu era uma outsider e estava engajada na privatização da empresa, que era algo que as pessoas não queriam”, lembrou.

A oferta de ações, realizada em junho de 2022 e que resultou na privatização da empresa, movimentou R$ 33,7 bilhões e foi marcada por inúmeras dificuldades, incluindo greves, notícias falsas, campanhas sindicais contra a operação e ações judiciais. “Foi um ambiente desafiador e nesse momento é que nos sobressaímos como líderes, se enfrentamos ou desistimos. Isso virou um propósito e eu pensava muito na importância de deixar esse legado, contribuir para a melhoria da gestão pública do país e evitar que a empresa corresse o risco de voltar a ser alvo de interferência política e más práticas de gestão. Enfrentamos um processo de uma complexidade que não tínhamos noção antes de passar por isso. Foi um exercício de liderança e uma grande experiência para a minha carreira”, ressaltou.

Projeto Cerrado

Outro destaque do debate foi o Projeto Cerrado, investimento da Suzano na criação da maior linha de celulose do mundo na cidade de Ribas do Rio Pardo, no Mato Grosso do Sul. O projeto conta com um investimento de R$ 22,2 bilhões e é responsável pela criação de 13 mil novos empregos, incluindo os gerados na construção, os diretos na operação da nova fábrica e os indiretos gerados pela operação.

O executivo falou sobre os desafios de um investimento dessa proporção e a visão de longo prazo que ele demanda. “Para aprovar um projeto deste, temos que ter certas crenças. A primeira delas é o mundo precisa de celulose. A segunda é ter estabilidade financeira e a confiança na sua capacidade de execução, por ser um investimento que depende de uma infraestrutura que não tem na região. Nós fizemos hospital e escola e criamos escolas de treinamento para capacitar as pessoas, fizemos mil casas para que as pessoas possam morar e trabalhar. O que dá mais satisfação é ver o desenvolvimento que você leva para a região”, analisou.

A importância do CFO e protagonismo feminino

O painel encerrou debatendo a importância do CFOs no sucesso do negócio. As executivas presentes falaram sobre o papel de protagonista que este profissional vem adquirindo dentro das empresas, tanto na gestão de riscos e decisões estratégicas quanto na formação da cultura das empresas.

Outro ponto de destaque no encerramento foi a jornada das mulheres dentro do mundo corporativo. As participantes falaram sobre os desafios que tiveram ao longo da carreira e aconselharam a buscar espaço de protagonismo.

“Trabalhei em ambientes predominantemente masculinos e predominantemente de engenheiros. Mas sempre fui teimosa e tive muita determinação. Nós, mulheres, somos duplamente cobradas. Invista na sua capacitação, tenha iniciativa, pois as coisas não caem do céu. E invista na sua educação financeira, pois isso vai te dar independência para tomar as melhores decisões de carreira”, aconselhou Elvira Presta.

Jeane Tsutsui reforçou o discurso, ressaltando a importância de cada vez mais as mulheres pleitearem posições de destaque. “A diversidade em todos os aspectos é o fator de melhor desempenho das organizações. Não há motivo para não termos mais mulheres na liderança. Todas as vezes em que sou convidada para falar em painéis sobre mulheres, eu vou para incentivar. Às vezes, as mulheres estão mais preparadas do que os homens, mas elas não pleiteiam a posição”, finalizou.

Visita à B3

Ao final do evento, os participantes tiveram a oportunidade de visitar o Centro de Operações da B3 e conhecer mais sobre a história e bastidores da Bolsa, com Willy Ronaldo, gerente de operações da B3, e Fernanda Cornetta Campos, membro do time de relacionamento com empresas listadas.

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