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Em um final de governo, pouco se pode construir para mudar uma situação de problemas estruturais que vem de longa data
Por Carlos Alberto Bifulco, presidente do Conselho Consultivo do IBEF-SP
Fonte: Exame App – 03/08/2018
O crescimento acentuado da economia dos Estados Unidos criou a expectativa de aumento das taxas de juros naquele pais. Como consequência, estamos vendo ocorrer a chamada fuga de capitais para a qualidade, fato que resulta em problemas financeiros para os países menos desenvolvidos.
Ao mesmo tempo, os problemas ocasionados pela greve dos caminhoneiros, que determinaram uma ligeira queda no crescimento econômico em vários setores e aumento de índices de inflação, trouxeram ainda mais problemas para a conjuntura econômica
A combinação desses fatos resultou na queda nos preços das ações cotadas na Bolsa e a valorização do dólar em relação ao real. A valorização do dólar alavancou os resultados das empresas exportadoras e trouxe problemas para as empresas dependentes de importação e devedoras em moeda estrangeira.
Os problemas ocasionados nessa conjuntura foram determinantes para obstaculizar a trajetória descendente das taxas de juros SELIC e trazem até uma expectativa de aumento futuro dessas taxas
Durante o processo de análise das operações financeiras inscritas no prêmio Golden Tombstone, pudemos observar que muitas empresas efetuaram a reorganização de sua situação financeira em 2017 e começo de 2018. Porém, esses esforços podem não ser suficientes na nova conjuntura que agora se configura.
O ambiente mais pesado ainda ficou mais complicado pelos resultados das pesquisas eleitorais para a presidência da República, que mostram como mais votados um candidato de direita e um outro candidato esquerdista. Os agentes de mercado procuram informações sobre o direcionamento das políticas econômicas desses candidatos e não encontram perspectivas de reformas progressistas nos esboços de seus programas de governo.
No segundo semestre, as empresas vão atrás de informações para estruturar seus orçamentos. Com esse clima de incerteza, ocasionado pela situação externa e a incerteza política, a tendência pode ser a contenção dos gastos com investimentos.
Se somarmos a essa posição tímida das empresas da iniciativa privada com as dificuldades orçamentarias do setor público, podemos ter uma queda substancial no volume de investimentos.
Qual a posição do Governo para atenuar esses problemas? A contenção de gastos resultantes de reformas progressistas nos parece estar adiada para 2019 e mesmo que elas ocorram no curto prazo vão trazer uma contenção de gastos que desacelerará ainda mais o crescimento econômico.
Por outro lado, o Banco Central manteve fixa a taxa de juros SELIC e está gastando substanciais recursos para procurar conter da taxa de dólar. Nós sabemos que esse esforço tem pouca probabilidade de sucesso a médio prazo. Mais uma vez, as autoridades do Governo procuram resolver problemas estruturais com políticas monetárias paliativas, que não resolvem os problemas e sim procuram atenuar as consequências.
Muito bem, o que fazer? Em um final de governo, pouco se pode construir para mudar uma situação de problemas estruturais que vem de longa data. Tudo indica que vamos viver dias agitados no Mercado Financeiro.