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A mulher deve ocupar cada vez mais espaço no mundo corporativo, e não deve se intimidar, quando em um dado momento, for a única representante do gênero em posições de alta gestão. Foi com esta mensagem de empoderamento que Rachel Maia mergulhou em temas diversos de experiência pessoal e profissional durante o evento ¨Encontro com CEO¨, realizado pelo IBEF Mulher no dia 16 de outubro, na Saint Paul Escola de Negócios.
Rachel foi eleita uma das 40 mulheres mais poderosas do Brasil pela revista Forbes, em 2017, e reconhecida em 2018 dentre os 13 executivos mais expressivos da Pandora no mundo – a única mulher da lista. Com background na área financeira, ela foi CEO no Brasil da joalheira dinamarquesa por oito anos, tendo deixado o cargo em abril.
Durante sua gestão, a marca de luxo saltou de duas lojas para 108 pontos de vendas em todo o país, e durante cinco anos esteve no ranking de Melhores Empresas Para Trabalhar (Great Place To Work). Ela é também idealizadora do projeto Capacita-me, que oferece cursos profissionalizantes para pessoas em condições menos favoráveis em São Paulo, visando ampliar as chances no mercado de trabalho.
Sem limites para sonhar – Ao compartilhar sua trajetória, a executiva contou os desafios particulares de representar apenas 0,04% dos CEOs no País, por ser mulher e negra. Proveniente de uma família humilde, Rachel comentou sobre a importância de se permitir sonhar e olhar para a vida em busca do sentimento de realização. Para ela, é possível conciliar isso, mesmo com a pressão de exercer um alto cargo em uma grande corporação. “Devemos nos permitir sonhar, mas também temos que acordar, planejar e executar. Aprendi com minha mãe que é bom sonhar porque é o elixir da alma, mas é bom realizar. Porque você aprende com seus erros e acertos”, disse.
Formada em Ciências Contábeis por uma instituição de ensino que poderia ser considerada mediana pelo mercado, Rachel disse que nunca deixou que isso fosse um entrave para o seu objetivo de trabalhar e crescer em empresas globais. A cada passo novo na carreira, buscava incrementar seu currículo, acumulando cursos de especialização e MBA em instituições como a University of Victoria (Canadá), Harvard University (EUA), FIA e USP, no Brasil.
Ela iniciou sua carreira na multinacional americana 7-eleven e depois ingressou na Novartis, onde trabalhou por quatro anos. Em seguida, foi convidada para atuar na Tiffany & Co como CFO. Na joalheria americana, Rachel também exerceu por dois anos a posição de CEO interina. Movida a desafios, e conhecida por sua habilidade para a construção de marcas e foco na experiência do consumidor, a executiva aceitou a missão de chefiar a Pandora no Brasil – nome até então desconhecido do grande público – e torná-la uma das três marcas líderes nas Américas.
A importância da presença – A lista de realizações de Rachel também abrange outros setores. Ela é colunista da revista Forbes Brasil e, mais recentemente, foi nomeada embaixadora da Audi Brasil. “Esse título é muito importante para mim, porque marca uma questão de gênero que é muito forte, já que o automobilismo é representado genuinamente por homens. Embora as mulheres expressem 51% deste mercado”, comenta.
A executiva compartilhou a experiência de simbolizar um gênero e etnia pouco presentes em cargos de alta gestão e conselhos, e destacou a importância de estarem representadas nessas posições para inspirar outras pessoas a verem que é possível. “Temos que nos posicionar e nos questionar sobre o porquê de não estarmos trazendo a etnia negra, que representa 54% da população brasileira, para as nossas empresas. Não basta não ser conivente, você deve trazer e fazer a diferença”, declarou.
A resiliência para lidar com a discriminação tem como exemplo seu pai, que ascendeu da posição de faxineiro de uma companhia aérea para o cargo de supervisor técnico, enfrentando essas situações com educação, posicionamento e busca por qualificação. “Ele me ensinou que não precisamos tornar tudo na vida uma batalha. Escolha as suas lutas e vença aquelas que eleger, fazendo o melhor possível”. E acrescenta: “Essas situações existem, mas elas não me definem”.
A profissional compartilhou mais um desejo de evolução na carreira. “Decidi que ainda posso contribuir e acrescentar para o ambiente corporativo, promovendo a diversidade e inovação. Mas pretendo me dedicar e me aprimorar ainda mais para atingir meu próximo sonho que é ser uma boa conselheira”, afirmou.
Para os que almejam permanecer em transformação constante, a aposta da Rachel é “traga o novo e o diverso, de forma inovadora”. Ela ressaltou a importância da equidade nas organizações e incentivou todos os presentes a buscarem talentos fora dos eixos e critérios tradicionais do mercado.
Por isso, e para criar oportunidades e ambientes de trabalho mais plurais, a executiva criou o projeto Capacita-me, que atua como ponte para que jovens da periferia possam ingressar no mercado de trabalho, depois de concluírem o curso de 160 horas de aulas de capacitação, que abrange introdução ao comércio, técnicas de venda e apresentação pessoal. Depois deste período, os perfis dos estudantes vão para um banco de vagas em empresas parceiras. “É uma forma de mostrar para estes jovens que, se quiserem, eles podem se capacitar para criar uma outra realidade fora do universo onde estão inseridos, e pautados na educação.” Ela estimulou que cada empresa ofereça oportunidades de vagas para os alunos que passaram pelo programa Capacita-me.