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Empresas apresentam visão mais estável em relação à crise no final do primeiro semestre

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Uma visão mais estável em relação à crise, com alguns setores já apresentando certa recuperação, foi apresentada durante reunião da Diretoria Vogal do IBEF-SP, realizada no dia 31 de julho. Apesar disso, as empresas sabem que o foco agora deve ser na reinvenção. Pesquisa realizada com os participantes da reunião mostrou que a maioria acha que mudanças realizadas na organização serão a chave para retomada do crescimento, com nos produtos e estratégias de preço novas. Luciana Medeiros, vice-presidente da diretoria executiva do Instituto, ressalta que na pandemia todos tiveram que olhar para dentro de casa e rever alguns conceitos. 

Outro ponto abordado na pesquisa foi a situação das organizações com os fornecedores, e cerca de 28% apresentaram uma visão positiva, enquanto a maioria teve uma visão estável. Serafim Abreu, presidente da diretoria executiva do IBEF-SP, diz estar pessoalmente otimista com o futuro próximo, especialmente com o governo falando em reformas, o que pode impulsionar a economia do país como um todo.

Esse cenário mais estável, que começa a apresentar recuperação, reflete positivamente no desempenho do mercado de capitais. Rafaela Araújo, diretora de relacionamento com estruturadores de ofertas da B3, destaca que os resultados surpreenderam mesmo diante da pandemia. “No ano passado, o mercado primário de ações praticamente bateu o recorde, puxado principalmente pelas ofertas subsequentes, das empresas já listadas. Tivemos apenas cinco IPOs e esse ano teríamos mais. Em abril, cerca de 20 empresas estavam em processos de registro, mas com a crise do novo coronavírus, a grande maioria decidiu por não cancelar, mas postergar as ofertas”, explica.

Rafaela diz ainda que em maio, o mercado começou a abrir novamente. “Até o momento, já tivemos 21 ofertas, levantando cerca de R$ 52 bilhões, sendo que 12 ocorreram após a pandemia”, ressalta, enfatizando, contudo, que neste momento as empresas tiveram que se readaptar, com roadshows digitais. “Essa é uma lição aprendida que potencialmente pode ficar para as próximas ofertas”.

Falando sobre o mercado secundário de ações, ela explica que no ano passado atingiu a marca de um milhão de contas de pessoas físicas investindo diretamente em ações. Ainda havia uma dúvida sobre o comportamento desses investidores em momentos de crise, e Rafaela diz que, na verdade, houve um aumento na posição. “A liquidez do volume médio diário negociado em bolsa também aumentou”, pontua Rafaela. “No mercado de balcão, tivemos uma oscilação mês a mês no volume de emissões, sendo que em abril houve recorde de emissão de debêntures, seguido por uma queda. E no mercado secundário, registramos aumento em 86% no volume negociado de debêntures.”, complementa.

Setor elétrico – No setor de energia elétrica, os resultados das empresas nesse segundo trimestre foram afetados pelos impactos naturais da redução de consumo, que em abril e em maio foi muito intensa. Segundo Britaldo Soares, vice chairman da Enel Distribuição São Paulo, a redução dessa carga no Brasil ficou na faixa de 12% a 16%. “No mês de junho, contudo, já amenizou um pouco esse impacto e naturalmente, como uma primeira reação das questões da pandemia, houve aumento da inadimplência”.

A média de inadimplência do setor subiu de 1,8% em média e chegou até 11% em maio, reduzindo no mês de junho. “Houve impedimento de redução do fornecimento, e por isso, o grande impacto no setor foi nas distribuidoras de energia”, explica. Nesse sentido, negociações com o governo e o regulador levaram a um pacote de liquidez, que ficou em R$ 16 bilhões, prevenindo aumentos tarifários maiores. Britaldo Soares destaca que, com a redução do consumo, as distribuidoras seguem tendo que pagar as geradoras, e se houver uma interrupção do fluxo de caixa na distribuição, haverá uma cadeia de inadimplência que se propagará pelo setor como um todo.

Soares pontua que o aspecto fundamental é que há um crescimento no setor, acompanhado de uma mudança de perfil, pois o consumo nas áreas comerciais e industriais está bastante afetado. “Além disso, geograficamente há uma diferença nesse consumo. Em algumas regiões ainda há perspectivas de queda. Mas no Brasil como um todo já começa a se falar em crescimento em relação ao ano passado”. Ele apresenta uma visão mais otimista sobre a situação e as consolidações. “Estamos caminhando para um cenário estável, sendo um dos pontos de atenção mais sensível a parte regulatória”, complementa.

Tecnologia – Apesar do setor de tecnologia ter ficado em destaque por conta das mudanças que as empresas tiveram que fazer para esse ambiente, o segundo trimestre foi desafiador no Brasil, principalmente em relação ao volume de vendas. Paulo Mendes, CFO da SAP, acredita, contudo, que o pior já tenha passado. “Vimos um aumento nos pedidos de revisão de projetos em andamento, que foram endereçados com foco na relação comercial de longo prazo com nossos clientes; este volume não tem aumentado, o que mostra que a situação de caixa dos clientes está replanejada e nos dá uma perspectiva positiva para frente”, diz.

No segundo trimestre, a equipe comercial da SAP fez mais de mil engajamentos virtuais com clientes antigos e novos. “Isso mostra que algumas coisas vieram para ficar. Temos que repensar na estrutura de custo e despesa”, ressalta Mendes. Outro indicador citado por ele foi o aumento de contratos digitais. “Mais uma vez, em situações de crises, as transformações aceleraram alguns processos”, destaca. 

Mobilidade – A crise afetou a questão da mobilidade da população como um todo, bem como o apetite pela compra. Ciro Possobom, vice-presidente de finanças da Volkswagen, destaca que o ano está difícil no setor automotivo, e na visão global, caiu muito em termos de volume de vendas, especialmente em abril. Ainda assim, já houve uma recuperação que refletiu em resultados positivos no mês de junho. “O mercado está se recuperando, a China voltou para o mesmo nível de 2019, os Estados Unidos estão melhor. Europa está um pouco devagar, e na América Latina há ainda um cenário mais lento”, diz Possobom.

A queda de vendas impactou o capital de giro do setor, porém, em junho, já houve recuperação do volume de vendas, segundo Possobom, com desempenho melhor do que o esperado. “O grupo está vendendo mais e a expectativa é que nos próximos meses a haja ainda mais avanços”, diz. As montadoras também estão retornando às suas atividades, e a própria Volkswagen reabriu suas fábricas no final de maio. “Porém, os turnos ainda são parciais, mas isso já começa a mover a economia. Um sinal que foi chave negativamente foram os lockdowns. Hoje, temos 90% das concessionárias abertas no Brasil, podendo produzir e vender, e clientes estão comprando. Há uma pressão de preço maior, o que afeta o negócio, principalmente por conta do câmbio”, complementa.

O setor de aviação, por sua vez, ainda vê dificuldades na recuperação. Alex Malfitani, CFO da Azul, ressalta que já é vista uma recuperação, mas o segmento teve uma redução de 93% nas demandas em abril. “Desde então, houve uma adição de 5 pontos percentuais a cada mês, e estamos apenas com voos que cobrem mais do que a despesa variável, mas o volume de tráfego e de receita ainda é baixo para fazer frente aos custos fixos. Tivemos que equacionar essa parte de conversando com os stakeholders e pedindo postergações”, conta.

João Paulo de Faria, CFO da 99, destaca que o mercado de aplicativos de mobilidade urbana praticamente já opera em níveis iguais aos do período pré-pandemia, com uma recuperação rápida pautada em avanços tecnológicos e através de importantes parcerias com os governos municipais e estaduais neste momento de crise.

Ainda que haja a expectativa de queda no PIB, que deve se estender até o próximo ano, há uma perspectiva de motoristas entrando no mercado em função do desemprego. “Esse ano esperamos ter um crescimento de 35% nas corridas em relação ao ano passado, e isso acontece porque o brasileiro não ficou em casa, e muitos estão com receio de usar transporte público, acabando usando o aplicativo”, diz Faria. Tudo isso tem gerado uma série de oportunidades para a indústria, especialmente com maior digitalização e uso da tecnologia. “Em breve novos produtos chegam, acelerados por esse processo”, diz. 

Construção civil – O setor de construção civil, por outro lado, surpreendeu positivamente. Vivianne Valente, CFO do Grupo Tigre, destaca que as quedas de volume previstas na crise eram de 40% a 60%, mas a indústria fechou o primeiro semestre com queda de 14% em relação ao ano passado. “O que estamos percebendo é que, apesar de o material de construção ser afetado na recessão, pois implica em tíquetes de investimentos altos para as pessoas, por outro lado existe um foco no viver bem, e na questão da reforma e da construção, houve um boom na venda de materiais a partir de maio”, diz Vivianne. 

Ela ressalta que o material de construção tem sido considerado essencial desde o início da pandemia, e as lojas continuaram abertas. “Com o foco das pessoas em reforma, os estoques reduziram. Esperamos ter um impacto de receita líquida em relação ao ano passado mais será menor do que prevíamos no Grupo Tigre. Com efeitos mais adversos nos demais países da América Latina (Bolívia, Chile, Argentina, Equador e Peru) e menos graves no Brasil, contudo, a dinâmica de isolamento social foi mais severa e o efeito grave permanece em alguns países”, complementa.

Consumo – No setor de alimentos, o impacto da crise foi, no primeiro momento, de um consumo muito acelerado, por conta do medo do lockdown, o que acabou se normalizando nos meses posteriores. César Jordão, CFO da Melitta, diz que 2020 tem sido um desafio para todos. “O café está incluído como um produto de necessidades básica, e no início da pandemia houve aumento de consumo e estoque do produto por parte das famílias. Em maio, tivemos uma estabilização, o crescimento voltou à normalidade e tende a se manter em níveis como os do ano passou, mas ainda há incertezas”, destaca.

Jordão diz que a expectativa é que o setor continue crescendo, mas não no mesmo nível como ocorreu no início da pandemia. “A grande dúvida está relacionada ao desemprego, que acaba sendo uma ameaça ao consumo, por aqueles que perderam o emprego ou aqueles que mesmo empregado, tendem a ser mais criteriosos com os gastos devido à incerteza da empregabilidade “, conclui. 

Recrutamento – As mudanças nas relações de emprego foram percebidas pelo setor de recrutamento. Ricardo Basaglia, diretor da Michael Page, diz esse setor foi o primeiro a sentir a crise, pois antes de se iniciar as demissões, as novas contratações ficaram congeladas. “Na China, vimos escritórios fechando, e no primeiro trimestre a queda de receita global da Michael Page foi de 12%, muito impactada pela Ásia. Já no segundo trimestre, a queda foi de 48%”. 

Na América Latina, a queda foi de 63% no segundo trimestre, com escritórios ainda fechados, sendo que o mercado no Brasil caiu 60%, com impacto mais forte em abril e maio. “Temos um plano para voltar as pessoas aos escritórios em setembro. Encontramos oportunidades nos setores de tecnologia, agronegócio, meios de pagamento, saúde, entretenimento digital, mas de maneira geral, as oportunidades são maiores para novas estruturas e perfis que serão necessários no pós-pandemia”.

Basaglia ressalta que novos caminhos de recrutamento serão encontrados, e já há muitas discussões sobre novas habilidades. “Temos falado sobre os pontos que levam os executivos para o sucesso na carreira, mas acreditamos na combinação de skills“, avalia. 


Conclusão – Magali Leite, da BP – A Beneficência Portuguesa, finalizou a rodada de setores da Diretoria Vogal do IBEF-SP, sinalizando que ainda há dúvidas sobre economia, comportamento da Selic, e eleições municipais. Ainda assim, ela ressalta as boas perspectivas de alguns setores, e repassa que alguns estão mais preocupantes e outros mais confiantes.

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