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Efeito do Cadastro Positivo sobre o crédito às pequenas e médias empresas e à atividade

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Por Flávio Calife e Rafael Soares, economistas da Boa Vista SCPC.

Em nosso último artigo publicado aqui em 27/2, destacamos dentre os projetos dentro da Agenda 15 aqueles que se relacionavam mais diretamente com o mercado de crédito. Entre eles destacamos as mudanças esperadas para o Cadastro Positivo (CP).

Neste artigo apresentamos informações extraídas da base de dados da Boa Vista SCPC, que podem ajudar a quantificar alguns impactos que as mudanças podem trazer sobre a atividade econômica, pensando especificamente nas pequenas e médias empresas (PMEs).

Para avaliar esses impactos contamos com estudos realizados internamente pela área de Analytics da Boa Vista SCPC, tentando estimar os efeitos do CP sobre as concessões de pessoas jurídicas.

Entre os resultados dos estudos feitos internamente destacamos três deles: (1) o primeiro refere-se à estimativa sobre as faixas de risco (scores de crédito) das PMEs. O aumento da quantidade de dados sobre o comportamento de pagamentos proporcionado pelo Cadastro Positivo reduz a assimetria de informações, permitindo uma maior assertividade nos modelos de risco. Os resultados apontaram que em torno de 33% dos clientes que anteriormente eram considerados tomadores de alto risco passaram a fazer parte do grupo de médio ou baixo, devido ao bom histórico de pagamento, agora identificado. (2) o segundo permite estimar o potencial aumento na taxa de aprovação dos empréstimos mantendo o mesmo risco da carteira, ou seja, mantendo a mesma taxa de inadimplência. Com uma taxa média de inadimplência esperada de 26%, a taxa de aprovação dos empréstimos passaria dos atuais 80% para 88,8%, um aumento de 11% em relação aos modelos sem o cadastro positivo. E (3) o terceiro buscou estimar a diminuição da inadimplência quando se mantém a taxa de aprovação dos empréstimos inalterada. Mantendo a taxa de aprovação de 80%, seria possível reduzir-se a taxa de inadimplência de 26% para 20,5%, uma diminuição de mais de 20% em relação ao modelo sem o Cadastro Positivo.

Com esses resultados em mãos criamos algumas projeções sobre os impactos da expansão das concessões de crédito às PMEs sobre a atividade econômica.

Com base nas carteiras de crédito dos cinco maiores bancos brasileiros percebemos que o crédito para PMEs corresponde a aproximadamente 1/3 do crédito total das carteiras, denotando a importância dessas empresas para o movimento da economia.
Para essa estimativa de impacto, teremos como premissa que as novas concessões de crédito provenientes da aprovação do Cadastro Positivo seguirão as mesmas proporções das carteiras atuais, ou seja, do total de concessões 1/3 se destinará às PMEs.

Dados do Banco Central referentes ao ano de 2017 mostram que as concessões livres para pessoa jurídica acumularam um total de R$ 1,2 trilhões no ano. Considerando que desse total 1/3 foram para as PMEs, estimamos que cerca de R$ 410 bilhões foram destinadas às PMEs.

Utilizando os resultados dos estudos internos da Boa Vista, em especial o item (2), com o cadastro positivo existe a possibilidade de aumento potencial na ordem de 11% nas concessões para as pequenas e médias empresas, levando a um acréscimo de R$ 45,2 bilhões no ano.

Procurando estimar o impacto desse crédito sobre a atividade econômica, nossos modelos da área econômica mostram que existe uma relação de causalidade entre a variação das concessões de crédito livre e a variação do PIB (ceteris paribus).

Estimamos que a contribuição dos empréstimos às pessoas jurídicas é de 0,09 p.p. sobre o crescimento do PIB. Com a premissa de que as PMEs representam 1/3 do crédito PJ, entende-se que a contribuição do crédito às PMEs sobre o total da atividade é de aproximadamente +0,029 p.p.
Assim, para cada 1,0% de aumento nas concessões de crédito livres para PMEs , teríamos um aumento de 0,029 p.p. no aumento do PIB (ceteris paribus).

Um aumento potencial de 11% na concessão de crédito real para PME teria um impacto de aproximadamente +0,317 p.p. no desempenho do PIB. É claro que esse incremento depende das variações do crescimento do crédito.

Este impacto não demoraria muito para ocorrer, pois segundo estudos do setor, o crédito para pessoa jurídica costuma ter efeito sobre a atividade no curto prazo, pois são utilizados principalmente para o capital de giro das empresas e para investimentos de curto prazo.

A aprovação das novas medidas sobre o Cadastro Positivo, em pauta no congresso nacional, torna-se cada vez mais imprescindível.

 

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