Para associados / Portal

Somos o maior Instituto de Finanças do Brasil

Economia: Cautela toma lugar do otimismo nas projeções dos CFOs

Getting your Trinity Audio player ready...

Será que entrou água no navio? Setores econômicos que iniciaram 2018 navegando em uma maré otimista no primeiro trimestre, começaram a ajustar as velas no segundo, e podem rever o curso para os próximos seis meses, após a tempestade da paralisação nacional dos caminhoneiros e as sacudidas do instável cenário político. O arrefecimento das perspectivas econômicas para este ano, projetadas pela maioria dos líderes de finanças, foi a tônica do almoço da Diretoria Vogal do IBEF-SP, realizado na última sexta-feira (15). O evento contou com o patrocínio da Tishman Speyer.

A atualização do cenário vem após a reunião do colegiado em maio – que aconteceu no ápice da paralisação das rodovias – lembrou Marco Castro, presidente da Diretoria Executiva do IBEF SP. O 1º. vice-presidente, Rogério Menezes, destacou a relevância do panorama setorial oferecido por este grupo de altos executivos e registrou que mais uma vez o evento teve “casa cheia”.

Confira a seguir o resumo das discussões:

Instituições financeiras revisam perspectivas – Augusto Martins, diretor do Banco Alfa de Investimento, destacou que o mercado já revisou as expectativas para o desempenho da economia. Algumas projeções já apontam o País encerrando 2018 com crescimento do PIB abaixo de 2%, taxa básica de juros, Selic, acima de 6,5% (tendo em vista os efeitos da desvalorização do real e o reflexo na pressão inflacionária) e a inflação próxima da meta do Banco Central. O aumento da taxa de juros irá impactar no custo do dinheiro, com bancos ainda mais cautelosos nas análises de risco de crédito. Nesse sentido, há boa perspectiva para a continuidade de emissões no mercado de capitais.

Bons ativos atraem forte interesse dos investidores internacionais – Setores como infraestrutura, energia e mercado imobiliário ainda atraem muitos investimentos internacionais. “Fica mais nítido que para ativos muito bons, a despeito das dificuldades do cenário econômico brasileiro, vai ter demanda de investimentos estrangeiros”, observou Charles Putz, sócio-fundador da Verena Ventures. Um exemplo é o leilão de áreas do pré-sal, realizado pelo Governo em 7 de junho e que teve duas áreas arrematadas por petroleiras estrangeiras com grande margem. Outro leilão que já tem participação internacional confirmada será o de linhas de transmissão da Aneel, marcado para o dia 28 deste mês.

Mercado imobiliário: preços historicamente mais baratos – Outro setor que atrai investimentos internacionais são os imóveis padrão “triple A”, especialmente em São Paulo e Rio de Janeiro, que estão com vacância e preços em níveis historicamente mais baratos. Gregory Vaca, COO da Tishman Speyer, incorporadora, gestora e proprietária de fundos que investem no mercado imobiliário (com quase US$ 90 bilhões sob gestão), nota que esse setor de capital intensivo praticamente não começou novos projetos nos últimos três anos e tem liquidado estoques em excesso. Contudo, essa janela de oportunidade é temporária, pois a demanda por espaços corporativos já mostra recuperação e a menor oferta de projetos, nos próximos anos, deverá pressionar os preços para cima. “É uma grande janela de oportunidade para as empresas melhorarem o perfil de seus escritórios e reduzirem custos, reservando esses espaços neste momento”, ressaltou o executivo.

Governo e consumidores pagam a conta da greve – O rescaldo da paralisação dos caminhoneiros gerou uma conta de R$ 700 milhões em perdas de receitas com arrecadação para as concessionárias do estado de SP no ano (8% do total da arrecadação dessas empresas), destacou Gilson Carvalho, CFO da Entrevias, ao citar dados da ABCR – Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias. O índice da Associação revelou que o mês de maio registrou queda de 13% no tráfego de transportes em comparação a maio do ano passado devido aos dias de greve – redução de 9% de veículos leves e de 23% de veículos pesados. A perda de receitas com arrecadação deve-se à suspensão da cobrança de tarifa de pedágio para o eixo elevado dos caminhões nas rodovias paulistas, negociada pelo Governo de SP com a classe grevista. As perdas financeiras dessa decisão deverão ser compensadas pelo próprio governo às concessionárias, por se tratar de fator alheio às empresas. Contudo, o consumidor terá que ajudar a pagar a conta, já que haverá reajuste no valor do pedágio, acima da inflação, para obtenção desses recursos.

Setor de tecnologia mantém boa perspectiva, mas investimentos podem desacelerar – O 1o. trimestre de 2018 foi positivo para o mercado de tecnologia. Contudo, em função das incertezas no cenário econômico, a perspectiva é que alguns CIOs poderão rever budgets e segurar decisões de investimentos no segundo semestre. O movimento de bancos e varejistas investindo em tecnologia de automação, visando redução de custo e segurança, contribuiu para os resultados do setor no 1o. semestre, observou Glaucio Barros, CFO da NCR Corporation.

O Governo tem sido um grande parceiro na área de software, observou João Paulo Seibel Faria, CFO da Microsoft Brasil, com medidas como o plano nacional de IoT (Internet of Things) e projetos de tecnologia para a área de saúde no contexto da indústria 4.0, e empresas investindo em tecnologias de proteção de dados e em analytics para gerar decisões mais assertivas, produtividade e empoderamento dos funcionários para essas decisões. As perspectivas para o ano são positivas, com a demanda aquecida do governo, setores de educação e saúde, e de pequenas e médias empresas por sistemas de inteligência artificial, segurança e infraestrutura.

Com relação às tendências de tecnologia, Paulo Mendes, CFO da SAP Brasil, destacou a migração de processos transacionais, como contas a pagar e receber, entre outros, dos Centro de Serviços Compartilhados para a máquina com automação completa. “Em breve, teremos o ERP autônomo: o analista financeiro simplesmente assiste à operações de débito e crédito, alocação de caixa e baixas de contas a receber, etc, acontecerem de maneira automática”, notou Mendes, ao destacar que esta será a próxima onda de tecnologia. Do lado dos desafios, a complexidade tributária continua despontando. A discussão sobre cobrança de ICMS pelos estados e ISS pelos municípios sobre as vendas de software abriu mais um capítulo no problema da guerra fiscal, gerando passivos tributários enormes para as companhias e perda de energia no negócio.

Setor de saúde acelera em beneficiários, mas ritmo pode ser reduzido – O setor de saúde suplementar acelerou nos primeiros meses do ano, observou Luis Blanco, CFO da Odontoprev, reafirmando a tendência de estabilização. Os dados de abril, divulgados neste mês pela ANS – Agência Nacional de Saúde Suplmentar, apontam crescimento de 216 mil beneficiários de planos médico-hospitalares em relação a março, e de 34,7 mil no comparativo com abril de 2017. Ao todo, são 47,3 milhões de beneficiários nesses planos.
O segmento de saúde dental teve maior aceleração, com acréscimo de 412 mil beneficiários de planos odontológicos no ano, sendo 212 mil somente em abril. A perspectiva é favorável ao crescimento deste mercado, tendo em vista que abrange apenas 12% da população. Apesar do cenário positivo, o setor de saúde como um todo também foi impactado pelo arrefecimento da economia, o que indica uma tendência de desaceleração para o segundo semestre.

Setor de comunicações enfrenta desafios – A queda de receita recorrente registrada pelo setor já há alguns anos, agravada pela recente crise que impactou o consumo e, por consequência, a compra de mídia, traz um cenário desafiador para essas empresas. Uma oportunidade para esse mercado está na combinação de margens e de negócios de diferentes segmentos, observou Magali Leite, CFO do Grupo Bandeirantes de Comunicação. A exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos, empresas de telecom conseguiram superar os desafios da perda de receita por meio da combinação de diferentes negócios, como TV por satélite, internet banda larga e provedores de conteúdo – caso da AT&T, que neste mês concluiu a compra bilionária da Time Warner.
No Brasil, esse movimento ainda não ganhou força. Um dos motivos é o impedimento regulatório que limita a 30% a participação de capital estrangeiro em empresas brasileiras de comunicação. A combinação de receitas e margens em queda, entrada de concorrentes digitais, restrição para capital estrangeiro e baixo acesso a linhas bancárias – em função de muitas empresas ainda serem negócios familiares com menor nível de profissionalização – são desafios para o crescimento.

Setor de construção pode desacelerar – Após o mercado de construção civil sofrer retração de 30%, considerados os anos de 2015, 2016 e 2017, o setor apostava na recuperação do crescimento em 2018. A indústria desses materiais, por exemplo, projeta crescer 1.5% em 2018, observou Vivianne Valente, CFO da Tigre, ao citar dados da Abramat, associação representativa do setor. E o crescimento realmente veio até abril (5.9% com a inflação), antes do impacto da greve dos caminhoneiros em maio. A paralisação afetou 90% das lojas de materiais de construção, com redução de 6% do faturamento no varejo. No comparativo de maio com abril, essa retração foi de 30 a 40%. A perspectiva é que metade dessas perdas poderá não ser recuperada no ano.

Empresas adiam projetos para 2019 – O mercado de engenharia foi também impactado pelo movimento de revisão de orçamentos e investimentos para os próximos anos, observou Daniel Godoy, CFO da Jacobs. “Muitos projetos greenfield e de expansão dos negócios foram congelados, empresas que começavam a discutir esse tipo de projeto adiaram para o próximo ano”, observou. O executivo observou como aspecto positivo, a vinda de players internacionais ao Brasil, que tem ajudado a movimentar a indústria. Com relação aos próximos meses, a perspectiva do setor é uma postura mais conservadora nos planos e forecasts, com atenção aos impactos do câmbio sobre custos dolarizados, e a expectativa de uma melhoria de cenário em 2019.

Indústria de máquinas e equipamentos mostra retomada – George Cavalcante, CFO da ITW, grupo multindústria, apresentou dados da Abimaq – Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos sobre este setor, que fatura cerca de R$ 70 bilhões/ano. Após cinco anos de taxas negativas, o mercado voltou a registrar alta dos investimentos produtivos no primeiro quadrimestre de 2018. De janeiro a abril, o consumo de máquinas e equipamentos cresceu 3,6% e as exportações do setor registraram crescimento de 28,7%. Apesar do aumento no faturamento, o cenário ainda não é positivo, pois o indicador de consumo aparente (índice de vendas dos fabricantes no mercado internos mais importações) não apresentou recuperação, frente o recuo de 13,9% no ano passado.

Número de investidores em Bitcoin supera o da Bolsa – O número de investidores em Bitcoin já supera 1,4 milhões de pessoas – o dobro de investidores na Bolsa brasileira, destacou José Roberto Securato, sócio-fundador da Saint Paul Advisors, ao trazer alguns insights sobre liquidez das emissões. O alto índice de liquidez global estaria entre alguns dos principais motivos que incentivam o brasileiro a tomar risco na criptomoeda. Trazendo a reflexão para o mercado de fusões e aquisições, o especialista destacou algumas medidas que podem ajudar a atrair o interesse do investidor e dar mais liquidez aos papéis das empresas: estabelecer ex-ante no contrato as condições para que a sociedade seja desfeita, e como segundo ponto, buscar viabilizar a exit strategy dos investidores, especialmente de longo prazo.

Encerramento

Sugestão – Walter Machado de Barros, membro do Conselho do IBEF-SP e do Conselho Fiscal do China Construction Bank, destacou que comunidade de negócios está preocupada com o cenário político eleitoral. “Há preocupação sobre como será 2019, em função da baixa previsibilidade das eleições deste ano – se quem vai ocupar a Presidência terá perfil de estado dirigente ou de estado que diminuirá seu papel. Essa situação está presente na revisão dos planos estratégicos das empresas”. Nesse sentido, Barros sugeriu ao IBEF-SP lançar uma pesquisa junto aos associados para identificar quais são os cenários econômicos futuros com os quais estão trabalhando e as medidas de mitigação de riscos adotadas. “Acho que será importante como boa ferramenta de trabalho na revisão dos planos das empresas”.

ENCERRAMENTO

“A tônica geral foi a de incerteza do cenário e que planos devem ser revistos”, observou Keyler Carvalho Rocha, conselheiro do IBEF-SP, ao sumarizar as discussões. “Podemos dividir Brasil em dois períodos – antes e depois da greve caminhoneiros. Também não se esperava que a situação politica fosse tão incerta, o que leva a uma preocupação maior para o próximo ano”, observou. Carvalho ressaltou que o próximo governo eleito, seja qual for seu líder, enfrentará enorme dificuldade porque não terá maioria suficiente no Congresso para realizar as reformas necessárias e que dependem de alteração constitucional, como as mudanças previdenciárias, tributárias e na área fiscal.
Ainda que alguns setores pontuais mantenham boa perspectiva, a maioria mostra-se preocupada e alterando planos – prevendo redução de faturamento e margens. “Infelizmente, esta reunião traz uma tônica diferente das anteriores, e hoje todos estão cautelosos”.

 

 

Última chamada para o Prêmio Revelação em Finanças IBEF-SP

Os profissionais interessados em concorrer com trabalhos no Prêmio Revelação em Finanças IBEF-SP terão até o dia 30 de junho realizar sua inscrição, e até 13 de julho para enviar o projeto. “Tenho certeza que todos têm algum trabalho de inovação na empresa que pode ser convertido em paper e submetido ao Prêmio. Os CFOs devem encorajar suas equipes a participarem”, destacou Luis Carlos Cerresi, membro da Banca Examinadora do Prêmio. Para mais informações sobre as condições, acesse: http://premiorevelacao.ibef.net.br

 

Para Associados

Para ter acesso ao demais conteúdos, você precisa ser Associado IBEF-SP

Pular para o conteúdo