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De primeiro estrangeiro presidente de um banco americano a Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles compartilha sua trajetória profissional

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Com uma notória carreira profissional, Henrique de Campos Meirelles é conhecido principalmente por sua atuação no setor público. O executivo da área financeira e político já passou pelo Banco Central do Brasil e ocupou o cargo de Ministro da Fazenda (atual Ministério da Economia), adotando medidas que foram importantes para o país em momentos diferentes de crise. Atualmente Secretário da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo, Meirelles auxilia nas ações do governo estadual para conter a crise do novo coronavírus (COVID-19) e minimizar os impactos econômicos que ela pode trazer. Em toda sua carreira profissional, apresentou atuação importante por onde passou, sempre buscando fazer a diferença, seja no setor público ou privado, com o princípio de focar em resultado e motivar equipes e funcionários.

Durante mentoring do IBEF Jovem, realizado por meio de videoconferência no dia 7 de maio, Meirelles compartilhou sua trajetória com jovens executivos da área de finanças. Formado em engenharia civil na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e pós-graduado pelo Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Meirelles optou por um caminho de ter um trabalho em uma instituição onde pudesse adquirir a experiência de alavancar sua carreira. “Minha primeira experiência foi no BankBoston, que me convidou para atuar lá, e decidi aceitar, pois na época era o mais antigo banco em funcionamento, fundado em 1960, um banco então chamado The First National Bank of Boston. Naquele trabalho, poderia de fato aprender bastante e isso era o mais importante”.

Meirelles, até então, acreditava que não teria condições de atingir a posição de presidente do banco no Brasil, pois na época nenhum brasileiro havia ocupado a cadeira de presidente da subsidiária de uma instituição internacional no Brasil. “Eu tinha expectativas e ambições na época, e isso era uma limitação, mas por outro lado, era uma oportunidade de aprender”. Ele destacou que um dos fatores decisivos para aceitar trabalhar no banco foi que ele se sentiu bem. “Depois fui entender que era uma instituição que valorizava a meritocracia. O que era certo, era certo, o que é errado, é errado. As condutas premiadas eram claras e havia pouco espaço para julgamento subjetivo, politicagem, com tudo bem definido não só no estatuto, na burocracia, mas também na cultura”. Ele foi contratado para começar a subsidiária de uma companhia de leasing do banco do Rio de Janeiro que, na época, era um mecanismo importante de financiamento de equipamento.

Ascensão profissional – Promovido ao longo do tempo, Meirelles se tornou vice-presidente do banco, e depois de 10 anos, foi o primeiro brasileiro a ocupar a presidência de um banco internacional no Brasil. “Isso aconteceu pois eu gostei do trabalho, entendi as regras, gostei das regras, e trabalhei com seriedade para entregar resultado. Também comecei a desenvolver teorias, e uma delas é o foco no resultado. Se o resultado não está aparecendo, tem alguma coisa errada. Qualquer projeto, produto, lançamento de empresa, filial, tem a estratégia e a execução, e a execução é tão importante quanto a estratégia. Isso é o que faz as coisas funcionarem”, disse.

Como presidente do BankBoston no Brasil, Meirelles e sua equipe passou a definir o perfil de cliente que a instituição atenderia, e o perfil do funcionário para atender a esse cliente. “Comecei a treiná-los e defini que o funcionário do BankBoston deveria ser o melhor funcionário em qualquer área. O investimento no funcionário vem em primeiro lugar, e no cliente em segundo lugar, pois é preciso ter uma pessoa qualificada para atender o cliente. O banco ficou em primeiro lugar na avaliação dos clientes na época, e ainda criamos uma categoria hors concours, que significa fora da concorrência. Também avaliamos o nível de satisfação dos funcionários. No final, o banco era o melhor do mundo dentro da instituição”, destacou.

Em 1996, Meirelles foi convidado para atuar na sede do banco, no cargo de presidente. Ao receber o convite, ele fez um curso oferecido a profissionais que estavam passando por um momento importante da carreira. Ele passou 30 dias em Boston num processo de tomada de decisão, e aceitou o desafio, ocupando o cargo até 1999 e se tornando o primeiro estrangeiro a presidir um banco americano de grande porte.

Transição para política – Em 2002, Meirelles decidiu voltar ao Brasil e renunciar ao cargo. “Na época, tinha uma certa amizade com uma série de pessoas que tinham posições importantes, falei com várias figuras, e outras pessoas que estavam dentro de um processo político e empresarial. Resolvi voltar a Goiânia e me candidatei a Deputado Federal, e isso foi muito útil na minha vida, pois conheci como funciona, o que estava na cabeça do eleitor. Precisava dessa experiência. Ganhei a eleição, mas não tive a oportunidade de assumir meu lugar”, disse. Em seguida, o então Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, o convidou para ser presidente do Banco Central do Brasil, cargo que ocupou de 2003 até 2011, sendo o presidente que ficou mais tempo no cargo. “Na época, o problema do Brasil era inflação e câmbio, e fui convidado para ajudar a resolver essas questões”.

Ele disse que aceitaria a posição com total independência, explicando que em outros países não havia Banco Central subordinado ao governo, e ao assumir o cargo, Meirelles primeiramente pensou como faria para motivar os funcionários. “Eu fiquei 8 anos no BC, e quando saí, os funcionários me agradeceram. Isso foi algo que entendi, que sempre temos que motivar o funcionário”, enfatizou. Cinco anos depois, em 2016, ele convidado a voltar ao governo como Ministro da Fazenda pelo então Presidente da República Michel Temer.

Crise Diante de sua experiência no governo, Henrique Meirelles ressaltou que para enfrentar qualquer crise é preciso, primeiro, identificar a razão da crise, endereçar e resolver a razão. “A crise de 2008, por exemplo, ocorreu por conta do colapso dos créditos internacionais. Os bancos americanos tinham quebrado, os europeus também, em maioria, e assim pararam de financiar empresas e instituições financeiras no Brasil. Esse crédito internacional representava 20% da oferta total de crédito no Brasil, e isso foi cortado do dia para a noite, fazendo com que o sistema de crédito do brasileiro entrasse em colapso”, contou. “O posicionamento diante de qualquer crise deve ser tomado diante de uma frase forte e fundada na realidade. Portanto, fiz uma conferência de imprensa e falei que o Banco Central estava preparado para substituir todo o sistema financeiro internacional no que dizia respeito a empréstimos no Brasil durante um ano. Nós tínhamos o caixa e as reservas. Isso deu uma acalmada, porque era verdade”. Meirelles ressaltou que a precisão de suas ações e ter o poder para implementá-las foi o que resolveu a crise naquele momento.

Já em 2016, a crise girava em torno do déficit fiscal, e a solução para isso foi controlar as despesas públicas, ou seja, o déficit primário. “Apresentei o projeto sobre teto de gastos, bloqueando as despesas para qualquer valor acima do ano anterior, corrigido pela inflação. Depois de muito tempo, não só dirigentes públicos, ministros, secretários, mas também parlamentares começaram a pensar em prioridades no orçamento. O Brasil saiu da crise e cresceu, pois fomos na raiz do problema. Depois tivemos eleições, greve dos caminhoneiros, mas de qualquer maneira, depois da aprovação da reforma da previdência, as coisas estavam começando a ir na direção certa, e aí tivemos a pandemia do novo coronavírus”, disse.

Pandemia – Meirelles destacou que a atual crise da COVID-19 dificulta uma previsão, pois não se tem uma raiz econômica, seja financeira em ou fiscal, e sim há um problema sanitário. “Em outras crises sanitárias, quem agiu mais rapidamente no isolamento foram os que saíram mais rápido e pagaram um preço menor na economia, sem falar na questão de saúde. Sabemos que essa é uma situação complicada no Brasil, mas é a razão de São Paulo ter adotado a quarentena. Temos que resolver o problema da pandemia, fazer com que a curva de contaminação, que ainda sobe forte no Brasil, caia, e assim a economia começará a se recuperar. Estamos adotando medidas para proteger a economia, mas é outro capítulo. Mas temos que entender que a raiz da crise é saúde”, complementou.

Para ele, a saída da crise em condições melhores dependerá da atuação do governo no crédito ou auxílio direto. “Mas se as empresas estiverem com nível grande de recuperação judicial, por exemplo, haverá um problema. Temos que preservar o pacto produtivo, mas com cuidado, cuidando do nível de financiamento lá na frente. O Brasil tem uma série de reformas ainda a serem feitas e pode crescer mais. Com as demais reformas aprovadas, diminuindo despesas correntes, aumentando entrada – faturamento e crescimento – dá para administrar a crise”, disse.

Aprendizados – “Em minha trajetória, apesar de ter conquistado grandes postos, no momento em que vi a oportunidade de ajudar a sair da crise, tanto no BC quanto no Ministério da Fazenda, eu quis fazer. E aqui na Secretaria da Fazenda e Planejamento de São Paulo também. É um trabalho gratificante poder fazer a diferença”, disse Meirelles. Segundo ele, sua experiência é pautada em um trabalho sério, duro, e com foco no resultado. “Mas tem também a questão comportamental, o relacionamento com as pessoas. Isso gera um ambiente de trabalho diferenciado. Na medida em que você cria um bom ambiente de trabalho, cria uma motivação e os melhores índices de qualidade”, complementou.

 

 

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