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Competição bancária à vista

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Por Flávio Calife e Vitor França, economistas da Boa Vista SCPC

Entre 2012 e 2017, o percentual de brasileiros que utilizam smartphones saltou de 12% para 67%, segundo pesquisa do Google Consumer Barometer. Este expressivo crescimento vem alterando não somente a maneira como as pessoas se relacionam entre si, mas também seus hábitos de consumo e sua relação com prestadores de serviços.

Se até pouco tempo filas intermináveis em agências bancárias e longas esperas na linha de atendimento de um call center pareciam fatalidades da vida cotidiana, hoje o pagamento de um boleto ou uma transferência de crédito podem ser realizados a qualquer momento, de qualquer lugar, com poucos toques na tela do celular.

Esta mudança se traduz em números. De acordo com dados do Banco Central, as transações bancárias realizadas pelo telefone celular passaram de menos de 100 milhões em 2008 para 24,5 bilhões em 2017, valor que representou 34,9% de todas as transações realizadas no Brasil no ano passado.

Com isto, o telefone celular já se tornou o principal canal de acesso a serviços bancários no país, superando o internet banking, que respondeu por 29,3% das transações em 2017, contra 33,4% no ano anterior.

Na análise por tipo de serviço, nota-se que o celular já responde por 58,1% de todas as consultas de saldos e extratos, 27,6% das transações de empréstimo ou financiamento, 18% das transferências de crédito e 12,4% dos pagamentos de boletos, percentuais que só tendem a crescer nos próximos anos.

Os impactos dos avanços tecnológicos e da mudança de hábitos dos consumidores, contudo, não se restringem à crescente participação das transações via telefone celular e têm potencial para alterar profundamente a dinâmica concorrencial do setor bancário brasileiro.
Os altos custos associados às redes físicas de atendimento demandam um enorme volume de clientes para que a prestação de serviços se torne economicamente viável, o que ajuda a entender a elevada concentração bancária no país.

As novas plataformas digitais, no entanto, diminuem substancialmente o custo da prestação, viabilizando, com isto, a oferta de serviços em menor escala.
Em setembro, o Nubank, fundado em 2013, atingiu a marca de 5 milhões de clientes, com 2,5 milhões de usuários de sua conta digital. O Banco Inter, por sua vez, superou a marca de 1 milhão de contas digitais (lançada em 2015).

Contas digitais, de maneira geral, são movimentadas pelos celulares, abertas sem a necessidade de ir a uma agência física e incluem um pacote de serviços básicos (cartão de débito, transferências, pagamentos de boletos, consultas de saldos) isento de tarifas.

Por trás delas, para além dos menores custos, há uma nova concepção de modelo de negócio: a conta corrente deixa de ser um serviço em si – pelo qual os bancos tradicionalmente costumam cobrar tarifas – e passa a ser um meio de se ofertar aos clientes produtos e serviços mais rentáveis como empréstimos, seguros, previdência privada e investimentos, tanto para pessoas físicas como para pessoas jurídicas.

A PagSeguro, por exemplo, companhia do ramo de pagamentos eletrônicos com forte presença principalmente no segmento de pequenas empresas, já oferece a seus clientes uma conta digital gratuita. Assim como ela, organizações dos mais diversos segmentos poderão aproveitar o relacionamento já estabelecido com seus clientes para ofertar contas digitais e, com isto, reduzir custos (de funding e tarifas bancárias, por exemplo) e diversificar suas receitas.

Curiosamente, apesar do avanço das contas digitais, as receitas de prestação de serviços de conta corrente dos cinco maiores bancos do país – que representam cerca de 23% do total das rendas de serviços destes bancos – passaram de R$ 13,9 bilhões no 1º semestre de 2017 para R$ 15,6 bilhões em 2018, um crescimento de 11,5%, bem acima da inflação, portanto.
O que pode explicar este fenômeno?

Uma explicação pode estar na preferência de clientes pelos grandes bancos: o porte, somado a décadas de investimento em publicidade, consolidou a reputação destas instituições como sinônimos de credibilidade e segurança, de forma que os clientes se mostram dispostos a pagar por isto.

Outra explicação pode estar na soma de elevada concentração bancária e assimetria de informação: muitos clientes ainda desconhecem a existência de serviços sem tarifas e, de maneira geral, em mercados concentrados as empresas têm poder de mercado para cobrar preços superiores aos que seriam observados se o mercado fosse competitivo.

A concentração de mercado, por sua vez, também gera relevantes problemas informacionais: enquanto as grandes empresas detêm uma valiosa massa de informações a respeito do comportamento dos clientes – o que ajuda a aprimorar a oferta de produtos –, empresas menores veem sua capacidade de competir limitada pela falta de informação.

Neste sentido, com o objetivo de reduzir o problema informacional e incentivar a competição, o Banco Central anunciou recentemente sua intenção de implementar no país um modelo de open banking, sistema em que os dados bancários e financeiros passam a ser dos clientes – e não mais das empresas.

A ideia é que, de posse de suas informações, o cliente passe a ter melhores condições para negociar com os bancos os preços cobrados por produtos e serviços. Autorizados pelos consumidores a acessar suas informações, diferentes competidores poderão ofertar produtos e serviços de acordo com o perfil das pessoas. Sem dizer que, com todas as informações compartilhadas em um ambiente digital, aumenta a capacidade de competir das empresas menores.

Com esta mudança – a depender, é claro, do modelo que será formatado pelo Banco Central –, a digitalização das transações bancárias tende a alcançar um novo patamar: para o consumidor, não se tratará mais apenas de acessar o aplicativo do banco pelo celular e realizar as transações; pelo celular, ele terá acesso a toda uma gama de produtos e serviços financeiros de diferentes instituições, poderá comparar custos e benefícios e escolher o que melhor se adeque à sua necessidade.

Ganham os consumidores, com mais opções, maior praticidade e redução de custos. Ganha toda a sociedade com um sistema bancário mais competitivo e eficiente.

As opiniões e conceitos emitidos no texto [acima] não refletem, necessariamente, o posicionamento do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF) a respeito do tema, sendo seu conteúdo de responsabilidade do autor.

 

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