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Cases do Prêmio Golden Tombstone são apresentados em evento da CT de Mercados de Capitais e RI

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O café da manhã da Comissão Técnica de Mercado de Capitais e RI do IBEF-SP, realizado nesta terça-feira (30), contou com apresentações de três cases de sucesso inscritos no Prêmio Golden Tombstone 2019. A premiação, promovida pelo Instituto, tem como objetivo dar visibilidade a operações de captação de recursos em empresas que se destacaram por sua relevância e inovação. O evento contou com a participação de representantes da PagSeguro, que foi vencedora na categoria Equity (em empate com a Stone), e da Eneva e da Rede D’Or, com operações inscritas nas categorias M&A e Debt, respectivamente.

Na abertura do evento, realizado desta vez no espaço do ISE Business School, o líder da Comissão, Marc Grossmann, destacou que o objetivo é compartilhar com todos os participantes como essas empresas prepararam e desenvolveram operações inovadoras, e o que aprenderam. Rodrigo de Oliveira, sócio da área de M&A da Deloitte, patrocinadora do evento, acrescentou a importância dessa troca de experiências. A Deloitte assessora empresas que estão em algum processo de busca por recursos, devolução de capital e operações de M&A. “Se você for fazer qualquer uma dessas operações, faça um bom self due diligence e prepare sua empresa”, completou Oliveira.

ENEVA: Reestruturação societária e financeira

O moderador do evento, Alexandre Rosaneli, do Grupo Cesari, iniciou o debate passando a palavra para Paula Alves, controller na Eneva, empresa que passou por um plano de reestruturação societária e financeira concluído em 2018, chamado de ‘Puzzle’ (quebra-cabeça, em inglês). “Já pelo nome, percebemos que foi uma reestruturação desafiadora, com alongamento de dívida, emissão de debêntures, incorporação de empresas, ou seja, projeto completo”, destacou Rosaneli. A iniciativa da Eneva começou após a empresa concluir o processo de recuperação judicial. “Foi um projeto complexo, com diversas variáveis que precisaram ser administradas concomitantemente para garantir o sucesso de sua implementação”, explicou Paula.

Em 2017, começou a reestruturação societária e de endividamento da companhia, que teve emissão e reperfilamento de dívidas com custo associado estável ou menor, diversificação da base de credores, otimização de tax shield e monetização de prejuízos fiscais e ágio, gerando VPL significativo para a companhia. “A reorganização esbarrou em desafios que a tornaram de difícil execução por conta da necessidade de obtenção de anuências e/ou renegociações complexas junto aos credores com Project Finance das diversas entidades envolvidas, além da necessidade de obter autorização das agências reguladoras ANP e ANEEL para que as incorporações fossem possíveis”, destacou a executiva da Eneva.

A operação foi desenvolvida de forma extremamente cuidadosa, inclusive ao mostrar aos stakeholders o progresso de cada etapa do processo da reestruturação. Após a conclusão do projeto Puzzle, a Companhia realizou assessment de crédito junto a agências de Rating, tendo alcançado a mais alta nota pela S&P (AAA), demonstrando o caso de sucesso no restabelecimento de seus negócios e implementação de diversas iniciativas para geração de valor. “Temos uma empresa que saiu da recuperação judicial e em menos de três anos se tornou Investment Grade”, complementou Marcello Carvalho, head de tesouraria da Eneva.

PagSeguro: IPO nos EUA

Outro case apresentado durante o encontro foi o IPO (oferta pública inicial de ações) da PagSeguro na Bolsa de Nova York, considerado o quarto maior IPO no setor de tecnologia mundial de empresas não americanas, e o maior IPO da América Latina, desde a BB Seguridade. “Isso mostra o Brasil representando nosso mercado no mundo”, disse o mediador Alexandre Rosaneli.

Segundo o diretor de relações com investidores da PagSeguro, André Cazotto, a empresa, que hoje contribui para a democratização da oferta de produtos financeiros para um mercado desatendido, pretende expandir sua atuação para outros produtos correlatos. “Oferecemos uma conta digital para clientes que não tinham essa possibilidade. Atendemos 4,4 milhões de pessoas, um público em sua grande maioria desbancarizado ou desatendido, sendo que 80% nunca fizeram operações de crédito e débito antes. Entramos com serviço totalmente digital e estamos nos preparando para novas formas de pagamento”, destacou Cazotto.

O IPO na bolsa americana foi no valor de US$ 2,6 bilhões, e a empresa se tornou uma das pioneiras em listagem nos Estados Unidos. “Captar com investidores acostumados com empresas e múltiplos do setor de tecnologia foi o grande ponto para a PagSeguro. Mas tivemos que lidar com a adaptação paras as regras da Securities and Exchange Commission – SEC, a comissão de valores mobiliários americana. Entre as regras estão a inclusão de comitês de auditoria e de membros independentes no conselho da empresa”, explicou.

Cazotto disse ainda que a demanda dos investidores no IPO foi surpreendente – alcançou quase 10 vezes o tamanho da oferta – e que não chegaram a considerar a possibilidade de fazer esta operação no Brasil, mas 6 meses após a operação já fizeram um follow-on (oferta pública subsequente de ações), também com boa demanda. “Acreditamos que a PagSeguro abriu portas para que outras empresas brasileiras façam IPO lá fora”.

Rede D’Or São Luiz: primeira emissão de CRI por empresa não imobiliária

Já a rede hospitalar Rede D’Or apresentou a operação de emissão de um Certificado de Recebíveis Imobiliários – CRI, mesmo não atuando diretamente no setor imobiliário. “Esse case abrange vários aspectos de inovação e é uma quebra de paradigma do mercado de capitais”, destacou Alexandre Rosaneli. A emissão de um CRI com amparo regulatório no caso Rede D’Or efetivamente abriu esse mercado para que outras empresas façam esse tipo de operação, disse o diretor de tesouraria do grupo, Victor Bussad. “A essência da Lei para ter uma base para emissões de CRI é o desenvolvimento e estímulo do mercado imobiliário. Entretanto, não existia uma definição clara do que é crédito imobiliário e coube à CVM definir isso”, explicou.

“Ao longo do processo, tivemos que atender a algumas exigências, pois nosso primeiro pedido para emissão de CRI, feito em 2012, foi negado pela CVM. Mas nos espelhamos em outros casos de CRI e pareceres da CVM. Realizamos um trabalho muito próximo e transparente com a autarquia, fizemos uma lista exaustiva de todos os imóveis que seriam investidos e qual o valor e cronograma estimados”, contou Bussad. A captação fez com que a empresa reduzisse significativamente o custo do seu endividamento e pudesse seguir ampliando o número de leitos. Após a primeira operação, feita no início do ano passado, o grupo já fez outras três emissões de CRI.

Resultado e governança

Ao final do debate, os participantes responderam perguntas da platéia sobre as operações, detalhando aspectos de estruturação, legislação e futuro das empresas. A Eneva atende às recomendações dos padrões de governança do Novo Mercado, explicou Ana Paula Alves.  A PagSeguro, por outro lado, não tem os mesmos requerimentos de governança que as empresas americanas, mas deve seguir algumas exigências do mercado nos Estados Unidos, e está trabalhando nesse processo. “Isso não é só relevante na regulação, mas também na percepção do investidor”, comentou André Cazotto.

No caso da Rede D’Or, a empresa tem origem familiar e não é listada na bolsa, mas tem seus números auditados desde 2008 e um bom nível de disclosure para os stakeholders, incluindo CVM e credores. Victor Bussad explicou que, naturalmente, a CVM, bancos e credores são criteriosos em relação à governança e due diligence. “A companhia teve capacidade de mostrar o valor de seu negócio e passou por várias fases que contribuíram para isso”, complementou.

 

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(Reportagem: Bruna Chieco)

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