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A transformação digital e seus impactos na Tesouraria Corporativa das empresas

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Como os tesoureiros podem influenciar essas mudanças?

Por Fernando Caritá, membro da Comissão Técnica de Tesouraria e diretor executivo de Advisory Services – Risk da EY

As companhias estão vivenciando um processo de intensa transformação digital, através de tecnologias inovadoras e disruptivas como, por exemplo, as ferramentas de robotização de processos, IoTs (internet of things), blockchain e inteligência artificial, que podem ser implantadas individualmente ou combinadas. Essas tecnologias têm mudado fundamentalmente a forma como diversos negócios operam e como gerar valor para clientes e colaboradores. Cada vez mais permitirão também obter informação sobre os mais diversos processos com maior velocidade, acuracidade, segurança e menores custos, cujos efeitos percorrerão diferentes áreas, inclusive na Tesouraria Corporativa.

Devemos nos deparar nos próximos anos com importantes inovações nos meios de pagamento, e nos processos que afetam as mais diversas variáveis do fluxo de caixa das companhias, além de processos e controles como, por exemplo, a forma como operações financeiras são negociadas e registradas. Por isso, a atuação do Tesoureiro e do seu time será fundamental para o sucesso da implementação dessas inovações.

Processos que podem ser automatizados na Tesouraria Corporativa
Devido ao grande volume de requerimentos regulatórios exigidos das companhias, a preocupação com segurança da informação e controles internos, e solicitações de informação ad-hoc para tomada de decisões da alta administração, os times das Tesourarias alocam uma quantidade de tempo significativa em atividades não relacionadas ao seu fim. Para isso a automação de processos através dos novos softwares de robotização de processos, conhecido como o RPA (Robotic Process Automation), podem ser uma alternativa importante para ganho de produtividade permitindo cumprir com os requerimentos de forma tempestiva, baixo risco operacional de erros e eficiente em relação a custo de implementação. Essas tecnologias também permitem otimizar atividades diretamente relacionadas a função da Tesouraria, como, por exemplo:

  • Agregar solicitações de hedge cambial das unidades de negócios, iniciar uma solicitação de preços em uma plataforma de negociação FX, dentro dos limites de preço definidos e gerenciar os processos de confirmação e liquidação das ordens.
  • Verificar assinaturas eletrônicas e alçadas de aprovação de pagamentos, conciliando com a base de registros das outras áreas como Recursos Humanos ou Impostos.
  • Priorizar pagamentos de acordo com parâmetros previamente definidos.
  • Monitorar volumes transacionais em um extrato bancário comparando em tempo real com registros da plataforma ERP da companhia ou do sistema de gestão da Tesouraria validando taxas bancárias, taxas de conversão cambial utilizadas na liquidação de operações cambiais e outros – enviar um sinal de alerta quando algo fora do comportamento esperado ocorre ou até bloquear a autorização de uma operação que apresente comportamento duvidoso.
  • Prever o comportamento dos eventos que afetam o fluxo de caixa através de ferramentas que “aprendem” à medida que acumulam dados sobre padrões históricos de desempenho financeiro, como entradas de receitas previstas versus reais para determinados produtos.

Blockchain e “smart contracts”
Blockchain é uma tecnologia que permite o registro digital de eventos que são armazenados e criptografados de forma que não seja possível alterá-los ou apagá-los. Além disso, a rede pode ser criada de modo que todas as partes envolvidas visualizem, aprovem e armazenem o mesmo registro digital. Essa tecnologia tem sido utilizada de diferentes formas como a criação de moedas digitais e contratos digitais que podem ser auto executados dado o atingimento de condições pré-definidas, conhecidos como smart contracts.

A adoção de smart contracts elimina a necessidade de diferentes partes manterem seus próprios registros em papel e garante que os termos e condições principais de um contrato sejam acordados e imutáveis. Acredita-se que essa será a tendência dos contratos de instrumentos financeiros e de apólices de seguros nos próximos anos. Como as condições contratuais já estão parametrizadas na rede atividades como autenticação, e execução do pagamento poderá ser realizadas automaticamente de forma incrivelmente rápida e segura. Do ponto de vista de controle interno das empresas a verificação e reconciliação das transações também poderá ser realizada de forma mais eficiente.

Um exemplo disso é o RippleNet, construído a partir da tecnologia blockchain, que representa um mecanismo alternativo de transferência cross-border à tradicional plataforma SWIFT, sendo testado pelo Banco Standard Chartered e outros bancos internacionais.

A R3, inicialmente suportada por grandes bancos internacionais como Goldman Sachs e Santander, também avança significativamente com a plataforma Corda e futuramente poderá ser uma importante alternativa para transferências interbancárias, transferências internacionais e smart contracts envolvendo instrumentos financeiros.

Próximos passos

Como podemos verificar o potencial das novas tecnologias é vasto e pode apoiar o Tesoureiro e os times das tesourarias de diferentes formas. Entretanto, essas soluções envolvem diferentes níveis de esforços de implementação e custos, o que tem resultado em uma adoção surpreendentemente lenta.
Em pesquisa recente realizada pela consultoria Serrala com 180 líderes da área de Finanças de empresas globais e publicada pelo The Global Treasurer, sobre quais tecnologias as equipes financeiras estão adotando para acelerar a modernização de suas áreas a grande maioria das empresas está considerando ou testando tecnologias como soluções em cloud, RPA, blockchain, mobile e inteligência artificial. Entretanto, muito poucas conseguiram realizar a implantação completa (17% têm implementações de nuvem completas e 12% têm implementações móveis completas – as outras tecnologias não ultrapassam 4%). O mais surpreendente é o alto índice de empresas que nem sequer consideraram adotar essas tecnologias.

Soluções automatizadas também possuem alta demanda: embora 26% dos líderes apontaram os processos de order-to-cash como os mais críticos, todos os demais processos também foram reconhecidos como tendo uma necessidade significativa de automação – incluindo gestão do caixa (19%) e elaboração de relatórios.

Essa pesquisa destaca o que muitos de nós já sabemos: a área financeira das organizações precisa acelerar a adoção de soluções automatizadas para melhorar a produtividade e reduzir os custos. Entretanto, isso é mais fácil de dizer do que fazer, modernizar processos é um empreendimento incrivelmente intenso, envolvendo adesão (e investimento) de grupos em toda a empresa. Entretanto, para evoluir e se tornar mais eficiente, as organizações precisam reconhecer a necessidade de tecnologias avançadas e soluções integradas para impulsionar seus processos.

Além disso, para que esse processo de transformação digital seja efetivo é fundamental a elaboração de um plano de implementação em etapas, e que considere aspectos como:

  • Demais projetos já definidos pela companhia: essas tecnologias permeiam diferentes áreas da companhia e podem conflitar com outras iniciativas já definidas. Dessa forma, é fundamental que as decisões de implementação sejam discutidas de forma ampla e integre-se adequadamente às demais transformações previamente definidas
  • Capacidade técnica dos envolvidos: estamos falando de tecnologias novas que exigem treinamento específico para a sua manipulação e manutenção. É importante que os times de usuários e manutenção técnica estejam preparados para essa transformação tecnológica
  • Governança: tecnologias como RPA são parametrizadas para realizar atividades de forma autônoma e podem requerer uma governança específica para a sua implantação e manutenção. Muitas vezes os “robôs” acessam bases de dados altamente sensíveis e realizam atividades que podem impactar as políticas de segurança da informação definidas pela companhia. É importante entender se esse robô, por exemplo, precisará de um usuário específico para acessar dados no ERP ou outro sistema legado, ou até capturar dados externos à companhia que atualmente são bloqueados por “firewalls”. Muitos robôs também são construídos de forma que suas ações são registradas de forma que possam ser auditadas internamente ou por terceiros.
  • Priorização e escopo: após uma avaliação em alto nível dos processos elegíveis a essas transformações é comum obter-se uma longa lista de iniciativas. Nessa hora é importante priorizar aquelas com maior potencial de impacto na estratégia da companhia, aquelas que permitem alcançar “quick wins” ou aquelas com potencial de redução de esforços do time e redução de custos.

Existem muitas oportunidades para que os tesoureiros e seus times agreguem valor no novo cenário digital implementando soluções para suportar o negócio no qual estão inseridos. Entretanto, será necessário sair da zona de conforto e adquirir novas habilidades fora das competências tradicionais.
Os tesoureiros precisarão conhecer com profundidade as novas tecnologias presentes nessa onda de transformação digital que já iniciou, e desenvolver os seus times para que sejam capazes de compreendê-las, aplica-las e apoiar diferentes áreas da empresa na sua implementação, participando ativamente no processo de tomada de decisões operacionais e estratégicas da companhia.

 

 

 

As opiniões e conceitos emitidos no texto [acima] não refletem, necessariamente, o posicionamento do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF) a respeito do tema, sendo seu conteúdo de responsabilidade do autor.

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