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“A atitude é o que te leva para frente”, afirma a CFO da Dow para a América Latina

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Dona de uma extensa carreira internacional, desenvolvida em Tesouraria e gestão de riscos, Valeria Roane foi a convidada do encontro de mentoring do IBEF Jovem realizado no dia 15 de agosto. Atualmente CFO para a América Latina da Dow, Valeria acumula 30 anos de trajetória na multinacional do ramo químico. Ela assumiu posições importantes em Midland (EUA), sede global da empresa, e Zurique (Suíça), onde atuou como CIO (Chief Investment Officer) para a Europa. Formada em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo, ela possui MBA em Negócios pela Universidade de Michigan (EUA).

Veja abaixo um resumo com os principais aprendizados compartilhados:

Unir paixão e valor agregado – Valeria entrou na Dow como estagiária. De lá para cá, já são 30 anos na empresa, dos quais 28,5 foram desenvolvidos em Tesouraria. O longevo relacionamento com a corporação não foi obra do acaso, mas sim fruto de um casamento entre a paixão da profissional por gestão de riscos e uma empresa na qual sua habilidade poderia realmente agregar valor.

Por ser uma companhia muito cíclica, a Dow sempre teve um grande foco em risk management, observa Valeria. “Sempre acreditamos que poderíamos diminuir a volatilidade do ciclo da empresa por meio de um gerenciamento ativo dos riscos: sejam eles pela parte de commodities, os insumos para fabricar os produtos, ou seja pelo fato de estarmos operando em mais de 100 países no mundo, onde temos exposição de moedas e de taxas de juros. Então, meu perfil sempre se encaixou”.

Saber para onde ir – O grande fator que fez a diferença em sua carreira, destacou a executiva, é sempre ter a clareza da direção que seguia. “A Dow é o tipo de empresa que valoriza a Tesouraria, conhecida como benchmark nessa área, o topo da linha. Sempre tivemos muita autonomia e essa mentalidade de gerar valor agregado ao negócio”.

Nesse sentido, a executiva dá dois conselhos aos jovens profissionais: buscar uma empresa em que se possa ter esse casamento entre paixão e área de especialização valorizada, e traçar um horizonte de crescimento. “Quando o funcionário não sabe qual caminho seguir, é um grande risco. Porque a empresa pode acabar decidindo por ele”.

A CFO destacou a atitude como outro fator importante para alguém avançar na carreira. “Eu já vi pessoas inteligentíssimas que não foram para frente na empresa. E, nesses 30 anos, raramente vi pessoas serem desligadas somente por erros na parte técnica; isso todo mundo faz e vai fazer em algum momento. O que te tira realmente do mundo corporativo é a sua atitude: como você trata as outras pessoas, como você se integra na cultura da empresa. A Dow, por exemplo, tem uma cultura muito forte. Você tem que procurar uma cultura empresarial em que se encaixe”.

À prova de bala – Certa da direção do seu desenvolvimento, Valeria rapidamente foi conquistando seu espaço na área Tesouraria, acumulando experiência em gestão do caixa e planejamento financeiro (estratégias de maximização de fluxo de caixa, projeções de fluxos financeiros e investimentos). Sua primeira experiência com financial planning foi para o Brasil, e depois investimentos e planejamento financeiro para a América Latina.

A CFO recorda ter acompanhado a conversão das dívidas de países emergentes em Brady Bonds, títulos de renda fixa lançados no final da década de 1980 para a reestruturação de dívidas de nações que não conseguiam honrar seus compromissos, sobretudo junto a bancos privados. Possuindo fábricas na Colômbia, México e Argentina, a Dow foi uma das pioneiras no uso de convertibility options, que foi o instrumento precursor do credit default swap. “Em um mercado dinâmico como a América Latina, o casamento entre uma empresa com grande foco em risk management e o ambiente da região, naquela época, era o filé-mignon… (risos) Foi uma experiência imbatível”.

Crescer em um ambiente de maior volatilidade política e econômica confere ao profissional latino uma grande versatilidade. Isso é um diferencial importante quando se trabalha em outras regiões do mundo, observa a CFO. “Quem cresce em um país muito estável, como a Suíça, por exemplo, pode não entender a necessidade que temos de pensar em várias alternativas para o resultado de uma mesma situação: o Plano B, C e D. Para ele, o Plano A deveria funcionar! Já nós, latinos, estamos acostumados com o contrário: o Plano A não vai funcionar, então melhor já pensar em outros cenários. Somos, realmente, à prova de bala!”.

Profundidade x ascensão rápida – A profundidade sempre vai se pagar para o profissional ter um crescimento sólido na carreira, ressaltou Valeria. Ela observou que hoje é comum ver profissionais que ficam um ano em uma área, dois anos em outra, porque consideram já terem aprendido o que precisavam sobre os processos.

“Conhecer realmente um processo é algo que toma tempo. E demora ainda mais para você entender como poderá adicionar valor a ele”, ensina Valeria. “Vejo pessoas que querem fazer o avanço na carreira muito rapidamente e acabam não tendo profundidade em nada. Para esse tipo de profissional, fazer um movimento para a próxima função será cada vez mais difícil. O que você terá a oferecer?”.

Ela observa que, com a globalização, as barreiras geográficas diminuem e a competição profissional aumenta. Hoje a Dow Brasil, por exemplo, conta com mais trabalhadores estrangeiros do que há duas décadas. “Você não vai se diferenciar pelo blá-blá-blá ou por tomar um cafezinho com as pessoas. Mas na profundidade do conhecimento em que você for referência como um valor agregado”, observa a executiva. “A impressão que você deixa nos outros também é importante. Alguém falar com você e ter aquele sentimento: puxa vida, é com essa pessoa que eu quero trabalhar! Sem empatia, é difícil avançar”.

Experiência internacional – Valeria viveu sua primeira expatriação, em 1993, quando a sede da Dow para a América Latina ficava em Miami, nos Estados Unidos. Um ano depois, com o fechamento da sede, ela retornou a São Paulo. “Meu sonho sempre foi cursar uma pós-graduação internacional. Eu estava decidida a parar de trabalhar por dois anos para cursar um MBA nos Estados. Falei com meu chefe e ele disse: que pena, já estava para sair a sua transferência para a Europa. Na hora eu respondi: desisto da minha pós-graduação (risos)”.

Ela realizou esse sonho, anos depois, cursando um MBA Executivo na Universidade de Michigan, após nova transferência para os Estados Unidos, desta vez em Midland, sede da Dow. “Eu cursei a primeira turma desse programa. Foi uma experiência maravilhosa porque nessa classe havia astronauta, médico cirurgião, enfim, uma grande diversidade de profissionais. A universidade fez um mix porque só poderiam cursar pessoas com mais de 15 anos de trajetória profissional. Foi uma experiência que eu amei”.

Mas realizar essa meta exigiu persistência: no meio do curso de MBA, a executiva foi chamada novamente para a Europa. “Meu primeiro filho havia acabado de nascer, então foi tudo ao mesmo tempo! Mas é impressionante como nós, seres humanos, quanto mais fazemos, mais descobrimos que podemos fazer. Consegui concluir o curso e foi maravilhoso. Não desisti do meu sonho acadêmico.”

Perfil de gestão de risco – Valeria atravessou o Oceano Atlântico para começar a trabalhar na Europa em 1996, incumbida de fazer o planejamento financeiro da Dow para a região. Depois de dois anos, com apenas 30 anos de idade, foi convidada para trabalhar na mesa de operações, cuidando da gestão de risco referente a todas as moedas e taxas de juros de mercados emergentes a partir da Europa. Em seguida, foi promovida para chefiar os investimentos globais da empresa, se mudando para a sede mundial da companhia em Midland, Michigan.

Aos 34 anos de idade, ela foi convidada para ser a head da mesa de operações da Dow na Europa. ”Nosso time fazia toda a parte de câmbio, taxa de juros para a região da Europa, Oriente Médio e África e também de trading no mercado de futuros de commodities, com o objetivo de administrar as exposições financeiras da empresa e agregar valor“, lembra a executiva, ao destacar que foi uma experiência magnífica.

“Quando você está em gestão de riscos, você dorme com o seu demonstrativo de Lucros e Perdas toda noite. (risos) Não há como se enganar: você sabe se está fazendo dinheiro para a empresa ou se é aquele dia em que você diz: se eu tivesse ficado em casa teria sido melhor! Você vive aquela pressão 24 horas. Do ponto de vista de ownership, accountability, é uma experiência inegável”, destaca Valeria.

O profissional de risk management tem características peculiares, nota a CFO: “É um perfil bem disciplinado. Sempre que alguém fala conosco, pensamos assim: Mas aonde ele quer chegar? Qual é o risco e o valor agregado? (risos) Você fica com essa cabeça mais mecânica”, observa. O perfil de funcionário é bem definido: alguém que pensa adiante. “Ele não olha só para o retrovisor, mas sempre para o que vem a seguir”.

Mudar é preciso – Valeria foi então promovida ao cargo de CIO – Chief Investment Officer da Europa, sendo responsável por cuidar de todos os fundos dos fundos de pensão da região. “Deixei o meu coração nesse trabalho. Se vocês fossem na minha mesa, na Europa, veriam as marcas das minhas unhas na mesa: não me tirem daqui! (risos)”, diz bem-humorada. “Eu amava profundamente esse trabalho. Tínhamos algo como US$ 6,5 bilhões para gerir nos fundos, divididos em diferentes jurisdições: Inglaterra, Holanda, Suíça, Itália, Espanha… E precisávamos alinhar essas estratégias com os Conselhos, formados por alguns profissionais que não tinham background financeiro: RH, representantes de sindicatos, aposentados, operários da fábrica, entre outros. Então, exigia muito trabalho em equipe e educação financeira visando o longo prazo”.

Após 11 anos na função, surgiu o dilema: a empresa informou que Valeria precisava mudar de área, tomar um respiro. “Na Dow é comum o profissional mudar de área após trabalhar nela de três a cinco anos. E eu já era a exceção da exceção”.

De volta ao Brasil – Surgiu então o convite para assumir o cargo de CFO para a América Latina. E, após 21 anos, já com uma família formada por um marido americano e três filhos, ela retornou ao Brasil. “Lembro da reação do meu marido ao contar sobre a oferta da empresa. Ele arregalou os olhos e disse: Brasil??! Meus três filhos também. E eu disse a eles: sim, mas essa é uma decisão de família, e há sempre uma opção: posso parar de trabalhar. E eles responderam: você não pode parar de trabalhar, mama. Ainda não estamos prontos para você ser 100% mãe em casa. Vamos para o Brasil (risos)”.

A executiva desembarcou na América Latina com um mandato claro: auxiliar na integração da região com as políticas do Corporate. “Não faz mais sentido esse pensamento de que somos diferentes. Queremos que as pessoas pensem como One Dow”, notou, ao ressaltar a importância de os processos estarem alinhados em nível global.

Desafios – Valeria contou os desafios do atual momento da Dow, que anunciou a fusão com a Dupont em 2017. Trata-se de um casamento com divórcio marcado, do qual nascerão três empresas: uma com foco em agroquímicos (Dupont), uma com foco em Materials Science (Dow) e uma terceira com foco em Specialty Products. “Quando o acionista analisa um negócio mais forte e focado, ele consegue avaliar corretamente os múltiplos”, nota a executiva. Outro motivador para a decisão de concentração em Material Sciences é a visão de fortalecer os negócios em que a empresa possui maior representatividade e força para negociar e obter recursos, tornando-se mais eficiente.

Com o chapéu de CFO, a executiva destaca algumas funções essenciais para esse profissional: pensar em como pode proporcionar mais valor agregado ao negócio; utilizar as novas tecnologias como analytics e Big Data para levar insights para a tomada de decisão; e a capacidade de estar reavaliando o que faz sentido para o contexto em que atua – o modelo do negócio e sua própria função.

Balanceando vida pessoal e profissional – Questionada por uma participante do mentoring sobre como conciliava o tempo para a carreira e a família, Valeria destacou a importância de ter um grande parceiro ao lado: “A melhor escolha que fiz na vida, determinante para a minha carreira, foi o meu marido”, disse, ao notar com bom humor que além de ser um grande companheiro, dividindo as tarefas em casa, é um marido “portátil” – por ser piloto de avião, consegue ter a flexibilidade para acompanhar as mudanças da esposa nos assignments exigidos pela multinacional.

Valeria sabe que é uma exceção, ao confirmar que a maioria das lideranças femininas em cargos de alta gestão que conhece chegaram lá porque o marido cedeu sua carreira – e nem todos cônjuges estão dispostos a ser o lado mais flexível. Frente à pressão familiar, algumas mulheres simplesmente decidem parar de crescer e ficam presas em cargos de média gerência, motivo por que esse patamar é também conhecido como “areia movediça” na carreira feminina.

“Essa é a maior decisão que eu acho que toda mulher deveria fazer na carreira: escolher com quem ela quer casar”, observou Valeria, ao reforçar que é possível ter carreira e família. “Quando você trabalha em uma multinacional, você terá missões em outros países. E, às vezes, o seu marido terá que parar de trabalhar para ir com você e sua família. Eu entendo que é uma decisão difícil, porque os dois precisam estar bem resolvidos sobre isso. Um vai ter que ser mais flexível que o outro”.

O mesmo vale para a criação dos filhos: “É importante você estar bem consigo mesma e não ficar se martirizando a vida inteira porque perdeu um aniversário. Isso é inevitável, vai acontecer. Mas quando você pode, tem que fazer o possível para estar lá e ser presente. Eu adoro a tecnologia, porque mesmo à distância eu estou controlando as notas deles. Eu sou super presente (risos)”.

Reencontro com o Brasil

Após viver por duas décadas no exterior, Valeria comentou quais foram suas primeiras impressões ao retornar ao Brasil. “O que eu senti maior mudança foi a educação do povo. Eu acho que o nível do sistema de educação brasileiro, particularmente em São Paulo, que vivenciei, deu uma declinada grande. Há questões políticas e de investimento. Eu acho que a democratização feita, em vez de colocar a barra da qualidade para cima, parece ter igualado por baixo”, destacou a executiva, ao notar que o fato de mais pessoas terem diploma de ensino superior não se traduziu em preparação para o mercado. Ela citou os exemplos da Suíça e da Alemanha, que investiram e valorizaram cursos técnicos, gerando profissionais mais experientes e com bom nível de aprendizado.

Valeria também elogiou o sistema político da Suíça, cujo governo é constituído de sete membros e, a cada ano, um membro do conselho torna-se presidente. “Isso os força a trabalhar em conjunto, com objetivos comuns, e comprometerem-se com uma agenda de mais longo prazo”. A executiva também destaca o sentimento de cidadania. “Há a visão de pensar no bem coletivo, investir e consumir produtos para apoiar a sua cidade, contribuir para o desenvolvimento da comunidade. É uma coisa maravilhosa. Deveríamos colocar o egoísmo de lado e exercitar mais esse sentimento de cidadania”.

IBEF Jovem – O IBEF-SP promove encontros de Mentoring, com o objetivo de incentivar o desenvolvimento da carreira, por meio do diálogo e do aconselhamento com líderes experientes. O IBEF Jovem é patrocinado pela plataforma Antecipa, que determina, por meio de algoritmos e análise de dados, a taxa de desconto da antecipação de recebíveis para cada transação, usando um mecanismo de leilão por meio de uma avaliação da oferta e demanda. www.antecipa.com

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