Getting your Trinity Audio player ready...
|
Fotos: Mario Palhares/IBEF-SP
Líderes de finanças das maiores empresas do país reuniram-se, na última sexta-feira (19), para o primeiro encontro da Diretoria Vogal do IBEF-SP em 2016. Antes de iniciar as análises setoriais com os executivos à mesa, a Diretoria do Instituto fez alguns destaques importantes.
32º Encontro Socioesportivo – A realização do maior evento de networking, conteúdo e lazer para executivos de finanças do Brasil está próxima, informou José Cláudio Securato. O Socioesportivo deste ano acontecerá entre os dias 25 e 29 de maio, na paradisíaca Ilha de Comandatuba, na Bahia. O presidente do IBEF-SP deu uma boa notícia para os associados que ainda não fecharam seus pacotes: há apartamentos disponíveis. Para maior comodidade na viagem, aeronaves fretadas estarão à disposição dos ibefianos e suas famílias.
iCFO – O Índice de Confiança do CFO já lançou sua primeira pesquisa, afirmou Rubens Batista, vice-presidente de Comunicação e Marketing do Instituto. Esse novo indicador de mercado será construído com a colaboração dos ibefianos e resulta de uma parceria entre o IBEF-SP e a Saint Paul Escola de Negócios. Rubens Batista destacou que o iCFO é um passo importante para o fortalecimento da marca do Instituto. Ele estimulou os líderes presentes a preencherem e divulgarem a pesquisa junto a outros CFOs.
Perguntado por um dos líderes sobre como ibefianos que não estão em cargos de CFO poderiam contribuir para a pesquisa, Rubens Batista informou que isso está em estudo. Possivelmente, haverá a inclusão de uma nova categoria para outras posições.
Projeto de Mantenedores – Marco Castro, 1º vice-presidente do IBEF-SP, informou que a Saint Paul Escola de Negócios é a mais nova integrante do quadro de empresas mantenedoras do Instituto, conjunto que só tem crescido. Marco Castro agradeceu a José Cláudio Securato, presidente da Saint Paul, a adesão. O projeto de mantenedores tem por objetivo desenvolver uma nova vertente de financiamento perene para o Instituto, contribuindo para sua sustentabilidade.
RODADA DE ANÁLISES SETORIAIS
Marco Castro destacou que as discussões da Diretoria Vogal passam a ter uma nova dinâmica: serão agrupadas por segmento, de forma a obter análises mais completas, abrangendo diferentes pontos de vista sobre um mesmo setor.
Varejo
Posicionamento estratégico – Stephane Engelhard, vice-presidente de assuntos institucionais do Carrefour, avaliou que 2015 foi um ano extremamente difícil para o varejo. Menor confiança do consumidor, desemprego, inflação em alta e a valorização do dólar impactaram vários segmentos. Nesse cenário, o varejo de alimentos ainda obteve crescimento razoável. Como consequência, empresas que estavam melhor posicionadas nesse mix sofreram um pouco menos os efeitos negativos do cenário econômico.
No entanto, segmentos de não alimentos, como eletroeletrônico, têxtil e bazar, amargaram perdas significativas nas vendas. “O varejo brasileiro nunca caiu tanto para a situação que temos hoje. O ponto mais crítico é não ter visibilidade para o futuro. 2016 é uma incógnita total”, observou Engelhard.
Em um cenário no qual varejistas regionais e até mesmo os grupos internacionais estão sofrendo com a queda no consumo, o executivo do Carrefour destacou que a companhia está conseguindo superar desafios do passado e apresentar crescimento. “O turnaround realizado entre os anos de 2010 e 2013 fez com que nos preparássemos para enfrentar melhor a crise”.
A estratégia de crescimento da empresa engloba o lançamento de lojas de conveniência em um novo formato, aquisições de redes de supermercado locais, fortalecimento do segmento de atacado e a retomada das operações de e-commerce neste ano.
Desejos adiados – Hugo Bethlem, sócio-diretor da Enjoy the Meal, chamou atenção para dados que mostram a gravidade do cenário. Em 2015, nada menos que 95.400 lojas que tinham pelo menos 1 funcionário registrado fecharam as portas. Ou seja, queda de 13% comparada à base existente em 2014. No final do ano passado, 1 em cada 3 lojas do segmento de hiper, supermercado e mercearia encerrou as atividades. Indicadores fundamentais para a atividade – consumo, emprego, confiança e renda – apresentaram-se, mês após mês, consistentemente negativos.
Trazendo um pouco de perspectivas, Bethlem citou pesquisa recente do Data Popular que aponta que os brasileiros estão adiando alguns desejos de consumo: 6 em cada 10 postergaram uma viagem, 6 em 10 deixaram para depois o sonho da casa própria, e 7 em 10 decidiram adiar a compra de um eletrodoméstico. Apesar de postergada, a intenção de compra permanece.
“O brasileiro está confiante na capacidade de transformação desse cenário. Enquanto isso, ele vai buscar uma renda extra, fazendo bicos, reduzir despesas em casa e buscar financiamento junto a varejistas”, observou Bethlem. Ele destacou ainda que existe grande potencial para o consumo, uma vez que 40% dos brasileiros ainda não têm conta bancária – uma oportunidade para a expansão do acesso ao crédito.
Adicionalmente, 9 em 10 brasileiros acreditam que o país vive uma crise de liderança, inferindo-se que uma mudança no cenário político poderá ajudar na retomada da economia.
Solução completa – Rubens Batista, sócio da 2B Partners, observou que o varejo sofre com o fenômeno de “downtrade”. O consumidor tenta reduzir custos e, para isso, opta por fazer compras em lojas mais populares, muda a cesta de produtos para adequá-la ao tamanho do bolso.
“Essa tendência afetou o faturamento do setor como um todo. Mas existem também outras orientações que vieram para ficar: o consumidor está voltado para a solução completa de compra e não mais para o produto”, observou Batista. A busca por produtos mais sofisticados (“gourmetização”), inovadores ou mais saudáveis são tendências que se consolidam, afirmou Rubens. Com isso, abre-se espaço para que sejam trabalhados diferentes modelos de lojas para atender tais necessidades.
Os varejistas possuem duas grandes alternativas para aumentar o faturamento: vender mais para os seus clientes ou aumentar o número de lojas. Como a segunda alternativa torna-se mais difícil e exige investimentos significativos, trabalha-se o aumento das vendas. Isso pode ser feito via estratégias de e-commerce ou novos formatos para supermercados e lojas de conveniência, como o modelo express.
O cenário é difícil, mas as empresas estão fazendo o dever de casa. Será preciso buscar ainda mais eficiência, fazer mais com menos, observou o executivo. “Não existe solução mágica. A reação vai depender da capacidade de cada um para adaptar seu negócio às mudanças”.
Tecnologia
Aumento de custos – Alfredo Benito, CFO da Samsung, trouxe o ponto de vista da indústria. Ele acrescentou que as empresas fornecedoras para o varejo sofrem os reflexos da queda no consumo.
As projeções dos fabricantes de tecnologia, em especial para os segmentos de TV e celulares, demonstram isso claramente. Em 2015, foram comercializados 8,5 milhões de televisores. Para 2016, a projeção é de manutenção ou leve queda desse volume. Com relação aos celulares, foram 51 milhões vendidos em 2015. Para este ano, a estimativa é menor: 41 a 47 milhões de unidades, a depender do aprofundamento da crise.
Benito afirmou que a indústria eletroeletrônica vive um grande desafio. A depreciação cambial tem impactado sobremaneira o segmento, principalmente no setor de alta tecnologia, no qual cerca de 80% dos insumos são importados. A tendência é que esses custos sejam repassados para o setor varejista.
Crédito mais escasso – O CFO chamou atenção para o cenário de crédito, uma vez que a maioria das empresas de eletroeletrônicos (nacionais e multinacionais) baseiam suas políticas utilizando seguro de crédito ou ainda recorrendo às seguradoras como consultores. A tendência observada no mercado securitário é a diminuição da exposição ao risco de crédito em países como Brasil, China e Rússia, especialmente em segmentos de maior risco.
“O crédito foi reduzido porque uma porção do Brasil necessita diminuir a exposição ao risco. É a profecia que se autorrealiza. Se não conseguirmos demover o setor securitário dessa trajetória, não sei se haverá crédito suficiente ou espaço para crédito, por parte dos fabricantes, para que o produto esteja disponível na compra”.
Apesar do cenário de pressão de custos e retração do mercado consumidor, o que certamente tornará o ano difícil, Benito acrescentou que a fabricante permanece confiante no Brasil e não pretende fazer desinvestimentos.
Custos dolarizados – Os impactos da depreciação cambial também foram observados por Claiton Camargo, CFO da Lexmark. A empresa, que atua na área de serviços e software e no segmento de hardware para clientes corporativos, registrou crescimento de receita em 2015. No entanto, como a organização possui receita em reais e custos em dólar, o resultado final foi de queda em relação ao ano anterior.
Mesmo em um cenário desafiador, a companhia tem registrado desaceleração menor comparada aos concorrentes. “Em 2016, vamos estar bastante focados na manutenção de contratos. Temos boas perspectivas para o mercado de software, mas não tão boas para o segmento de pequenas e médias empresas”, completou.
Meios de pagamento
Retração – Clóvis Poggetti Jr, CFO da Cielo, destacou que o setor de meios de pagamentos também funciona como um termômetro do varejo. Ele comentou os resultados do Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA), indicador que mensura o desempenho de 1,8 milhão de estabelecimentos, em mais de 20 setores.
Com relação ao início de 2016, Poggetti observou que, em um primeiro olhar, o mês de janeiro apresentou uma leve recuperação (-5,6) em relação a dezembro de 2015 (-5,9), em função do desempenho positivo das companhias aéreas. No entanto, excluído esse segmento, todos os outros apresentaram recuo.
Se por um lado o setor de serviços foi positivamente influenciado pelas companhias aéreas, por outro os setores de bens semiduráveis e duráveis continuam em desaceleração, liderando as quedas do índice.
“O ano começou complicado. Não é nada diferente do que se esperava, mas continuamos torcendo para que alguma coisa positiva aconteça e possa gerar um fluxo positivo de noticias”, afirmou o executivo.
Setor financeiro
Empoçamento de liquidez – Para os bancos, as expectativas também não são das melhores, observou Aury Luiz Ermel, executivo do China Construction Bank. O CCB é o segundo maior banco da China. Possui patrimônio líquido de 212 bilhões de dólares e ativos avaliados em 3 trilhões de dólares. Em 2014, o CCB comprou o controle acionário do BIC Banco, que possui estrutura de 34 agências no Brasil.
Segundo Ermel, o CCB está se preparando para operar no país, por meio de aportes de capital nessa estrutura, e terá foco na oferta de crédito para o segmento corporativo.
No entanto, essa atividade será feita de forma seletiva e com preocupação redobrada, observa o executivo. Ele avaliou que não há, neste momento, vontade do sistema bancário para fazer grandes aportes. As instituições financeiras estão preocupadas com a elevação do risco de crédito e o aumento do desemprego.
Nesse sentido, existe uma forte tendência para que os bancos continuem ao longo deste ano com um empoçamento de liquidez. “Não acredito que o sistema bancário, como um todo, venha a crescer em 2016 no mesmo ritmo dos anos anteriores”.
Energia
Consumo em queda – Em outros setores, a situação é menos crítica ou até mesmo positiva. Luiz Pereira de Araújo Filho, CFO da Santo Antônio Energia, quarta maior geradora do país, afirmou que o setor elétrico deve ficar em um nível de estresse abaixo do registrado nos últimos anos. Colaboram para isso o aumento dos índices de chuva, a ligeira recuperação dos reservatórios, e até mesmo a queda no consumo.
A crise econômica deu sua contribuição. A paralisação de atividades industriais e o corte de gastos nas residências desenham um cenário em que a rápida volta aos níveis anteriores de consumo é pouco provável. “Qualquer que seja a retomada, não há indícios de que essa carga seja recuperada rapidamente; esse processo acontecerá de forma suave”.
Para se ter uma ideia do ritmo da desaceleração, observou o executivo, o preço do Megawatt-hora atingiu o patamar de em 338 reais em 2015. Hoje está em 30 reais. Preços ajustados no passado traduziram uma bolha de não precificação correta dos valores, observou o executivo.
“Acredito que ainda podem ocorrer ajustes em 2016, mas sem grandes impactos em função do cenário de recessão econômica. Apesar de o momento ser de maior estabilidade, o que traz benefício para as geradoras, não queremos ver isso acontecer em função de uma crise econômica”.
Saúde
Redução de ineficiências – Os efeitos da desaceleração também chegaram ao setor de saúde, observou Adolpho de Souza Neto, CFO do Grupo Fleury. De acordo com a Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp), pela primeira vez em 10 anos o setor registrou 8% de queda no faturamento nominal.
O executivo destacou que o Grupo Fleury passou por um momento de reestruturação entre os anos de 2012 e 2013, fato que ajudou a companhia a estar melhor posicionada para enfrentar a crise. Cortes de custos e redução de ineficiências foram medidas tomadas à época que se mostraram acertadas para enfrentar o momento atual.
No último trimestre de 2015, a companhia ampliou seu market share, mas as ações preventivas contra os efeitos da crise continuam a todo vapor. “Temos projetos grandes envolvendo pessoas e serviços, por isso estamos olhando de forma atenta para tudo o que possa gerar economia”, disse o CFO.
Diversificação – Luis André Blanco, CFO da Odontoprev, destacou que duas facetas do negócio vivem momentos diferentes. Se por um lado o segmento corporativo sofre em função do aumento do desemprego, o segmento massificado de clientes individuais e de pequenas e médias empresas segue de vento em popa.
“Crescemos 10% ao ano e, devido ao posicionamento nesses dois mercados, estamos conseguindo mitigar os efeitos da crise. O foco que dedicamos no passado ao segmento massificado nos ajudou a enfrentar melhor esse momento”, observou Blanco.
Aviação
Credibilidade – José Antônio Filippo, vice-presidente de finanças da Embraer, afirmou que a companhia atua em um mercado global, mas também é afetada pelo cenário brasileiro.
Em relação ao segmento de aviação comercial, os Estados Unidos têm contribuído para o desempenho da empresa. Nos últimos dois anos, houve uma grande renovação de frota no país, oportunidade bem aproveitada pela Embraer.
O mercado europeu continua em lenta recuperação, o asiático parado, e no Oriente Médio observa-se um cenário de desinvestimento. A América Latina também não se mostra favorável.
Já no segmento de aviação executiva, o mercado apresenta os mesmo níveis desde 2008, não tendo se recuperado para os níveis pré-crise. Como resultado, aeronaves novas competem hoje com aeronaves com mais de 10 anos de uso.
Com relação ao segmento de defesa, o principal cliente da indústria é o governo. A companhia possui mais de 3 mil engenheiros envolvidos nesses projetos e procura manter os investimentos, ainda que esteja sentindo o inadimplemento.
Nesse cenário complexo, a depreciação cambial acabou trazendo alguns benefícios para as contas da indústria, uma vez que os custos são em reais e os preços são dolarizados. Por outro lado, a insegurança tributária, a redução dos incentivos para os investimentos em tecnologia, e a queda no preço do petróleo (que adia a renovação das frotas de aviões mais antigos) são desafios.
Adicionalmente, a deterioração da economia brasileira não tem contribuído para a imagem das empresas locais no mercado de capitais internacional. “Hoje começamos a ser dragados, pois os investidores não conseguem dissociar o CNPJ do Brasil. As notícias são fatiadas e os analistas questionam se os projetos são firmes. Todo o mercado é visto com desconfiança, e as ações se desvalorizam”.
Anos desafiadores – Encerrando o encontro, Eduardo de Toledo, diretor estatutário da Klabin, destacou o bom momento da Argentina e destacou que as exportações brasileiras de papel para o país estão crescendo.
“Os próximos anos serão desafiadores, mas as empresas representadas no IBEF-SP têm a oportunidade de olhar o que está acontecendo fora de seus setores. E podem, dessa forma, enxergar rumos para lidar de uma forma diferente com a situação”, completou Toledo, que é também membro do Conselho de Administração do Instituto.