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Desenvolver e delegar: o modelo de liderança de Rosangela Sutil

Participantes do mentoring com Rosangela Sutil, CFO da Eletromidia

O programa de mentoring do IBEF Jovem teve continuidade neste mês com Rosangela Sutil, CFO da Eletromidia, executiva com mais de 20 anos de experiência na área financeira e administrativa. O encontro foi realizado na última quinta-feira (09), na sede do IBEF SP.

Trabalho e estudo: conciliação depende da capacidade do profissional em administrar as responsabilidades

Trajetória – Natural da cidade de Francisco Beltrão (PR), Rosangela começou a trabalhar na adolescência como “faz tudo” no comércio da família. Foi assim seu primeiro contato com o mundo das finanças. “Aprendi a fazer a gestão das contas a receber, fazer a cobrança e relacionamento com os clientes, processos que vivenciamos no dia a dia das empresas”, contou a mentora.

Rosangela trabalhava de dia e estudava à noite em um curso técnico de contabilidade. Para ela, o tempo certo entre começar trabalho e estudo não tem receita: “Tudo depende da forma como o profissional evolui e administra as responsabilidades. Ele precisa saber como se sente bem, se eventualmente precisará de algum complemento ao aprendizado prático e ter a humildade para buscar este”.

Primeiro emprego – A rotina de trabalho e estudo continuou quando Rosangela iniciou a faculdade de Ciências Contábeis na Universidade Federal do Paraná. Nessa época, um novo trabalho a influenciou positivamente: foi selecionada para ser consultora do Sebrae em sua cidade, com a missão de iniciar os trabalhos de apoio ao micro e pequeno empreendedor. Rosangela considera este projeto seu “primeira startup”.

Assim, desenvolveu localmente trabalhos de consultoria e organizou treinamentos para empresas, em diversos segmentos. Os contatos que obteve à época a ajudaram a trazer para a cidade uma pós-graduação em gestão de processos de qualidade – curso que realizou.

Virada na carreira: profissional deve se planejar e saber onde buscar apoio

A hora da decisão – Por seu contato precoce e intenso com o mundo empreendedor – decorrente da experiência na empresa familiar e os seis anos de consultoria pelo Sebrae – parecia natural que Rosangela trilhasse o caminho do empreendedorismo. Mas ela desejava mudar os rumos de sua vida profissional.

“Meu maior interesse era estar na outra ponta: trabalhar dentro do mundo corporativo. Percebi que se continuasse onde estava, provavelmente seria uma empreendedora, pois não havia mercado na cidade para eu me tornar uma executiva”, contou a CFO.

Em momentos decisivos, afirma Rosangela, é fundamental o profissional saber quais são seus objetivos, planejar como irá desbravar o novo caminho e onde buscará apoio para isso.

Iniciando a vida executiva – Foi então que Rosangela decidiu mudar para a capital, Curitiba, em busca das oportunidades que só uma grande metrópole ofereceria. Começou a vida executiva em uma empresa nacional (Nutrimental) e depois foi para uma multinacional (Kraft).

Em seguida, entrou em um projeto que considera o seu “segundo startup”: ajudar a estruturar as operações e os processos da Global Village Telecom (GVT) no Brasil, visando a uma futura abertura de capital da empresa de telecomunicações. Rosangela se tornou gerente de RI e participou do time responsável pelo IPO da companhia, operação que foi considerada uma das mais bem-sucedidas do ano de 2007. Dois anos depois, a GVT foi vendida para o grupo francês Vivendi e, mais tarde, para a Telefônica.

“A maioria das empresas por onde passei sempre tiveram uma expectativa de crescimento, rentabilidade e geração de caixa muito alta”, destacou Rosangela sobre seu perfil executivo.

Atitude do profissional faz a diferença para ser considerado   em um cargo de gerência

Assumindo a liderança – Ao conquistar seu primeiro cargo de gestão na GVT, Rosangela enfrentou seu primeiro grande desafio com um time de 12 pessoas: liderar profissionais que eram seus pares. Dentre os pontos importantes para se diferenciar dos demais e ser cotada para uma posição de liderança, Rosangela destaca dois: iniciativa e ousadia para se posicionar.

“Eu e meus pares tínhamos capacidade técnica similar. O que fez a diferença foi a minha atitude. Tomava a iniciativa em situações delicadas, não tinha medo de me expor e nem de falar a minha opinião, independente do nível hierárquico do meu interlocutor”, afirmou Rosangela. “Sempre fui audaciosa na minha carreira. Eu era analista, mas quando necessário batia na porta do diretor. E isso, de alguma forma, foi bem visto pelas lideranças”.

A habilidade de comunicação também foi um grande diferencial. “Eu me preparava para falar com os gestores, estruturava o que eu ia dizer, qual a mensagem que queria passar”, contou a executiva. Como dica para os jovens profissionais, recomendou iniciar essa prática escrevendo os tópicos principais da conversa que pretendem ter, ou então elaborar um Q&A (perguntas e respostas), expondo argumentos e contra-argumentos para defender a sua opinião sobre determinado assunto. “Quando isso se torna um hábito, fica tão natural que é quase automático”.

Contudo, a boa comunicação precisa vir acompanhada da boa execução. “Ter iniciativa também exige timing. De nada adianta ao profissional apresentar um projeto a todo momento se ele não termina nada daquilo que propõe, a entrega não acontece”, alertou a executiva.

Liderar pares: é preciso encontrar meios para que todos do time se sintam valorizados

Da competição à parceria – Outro desafio de gerenciar pares é encontrar meios de acomodar a competição natural de egos, e trazer o time a seu favor, observou Rosangela. Com esse objetivo, logo após assumir seu primeiro cargo de gestão, a executiva decidiu reestruturar a sua área de forma a gerar a valorização de cada profissional da equipe.

“Transformamos os profissionais do time em consultores responsáveis pelas áreas de negócios. Eles foram treinados para olhar a cadeia de processos de uma forma completa (e não somente partes destes), e começaram a se reunir com as lideranças das áreas, olhar para os investimentos”, observou Rosangela. “Foi agregador porque todos se sentiram mais valorizados, como parceiros dos negócios”.

A mudança foi positiva para os profissionais e, principalmente, para a companhia. Como o time passou a entender melhor o business de cada área, processos foram aperfeiçoados, prazos diminuíram e os resultados cresceram significativamente. Posteriormente, alguns membros da própria equipe foram promovidos a cargos de gestão.

Ingressando no C-Level – Dez anos depois, com um MBA internacional e um casamento somados à vida, Rosangela decidiu fazer outro movimento ousado para sua carreira: mudar para São Paulo. Migrou do setor de serviços para o setor produtivo e começou a trabalhar em uma multinacional alemã de automação industrial, a Festo.

Pouco depois, teve a oportunidade de se tornar CFO na Mandic, uma empresa de computação na nuvem que havia sido recentemente investida pelos fundos de private equity Riverwood e Intel Capital “experiência que Rosangela considera como a seu “terceiro startup”.

“Foi um passo audacioso assumir uma função de C-Level, migrando para uma companhia menor, de dono, que trabalhava com metodologia de gestão mais empírica. Recebi suporte dos fundos e do time para estruturarmos os processos e a governança, e fiquei muito feliz com a evolução registrada pela Mandic”. Em poucos anos, a empresa praticamente quintuplicou de tamanho, destacou Rosangela.

Em 2017, a executiva aceitou um novo desafio e se tornou CFO da Eletromidia, empresa de mídia out-of-home especializada em transporte urbano. A empresa foi adquirida há quatro anos pelo fundo de private equity H.I.G. Capital.

Alta gestão: é preciso entender como o Conselho de Administração pensa

Subindo um novo degrau – Questionada pelos participantes sobre como foi sua preparação para o cargo de CFO, Rosangela disse que procurou ao longo de sua carreira passar por todas as áreas de finanças, o que lhe conferiu a base técnica necessária. Portanto, para ela, o maior desafio para subir este degrau está na relação mais intensa com os times e com os órgãos de governança da companhia.

Rosangela buscou mais ferramentas para apoiar seu desenvolvimento nas novas atribuições: participou de treinamentos relacionados a governança corporativa e cursou um pós MBA internacional ligado a conselhos de administração. “Ao integrar a alta gestão, você precisa entender como os membros do Conselho de Administração pensam sobre a evolução do negócio e orientação para a tomada de decisão estratégica”, disse a CFO, acrescentando vislumbrar a participação em conselhos como uma etapa futura para a sua carreira.

Rosangela também intensificou sua participação no IBEF SP, tornando-se membro do comitê editorial. Em 2017, Rosangela aceitou o convite para um novo desafio: passar a integrar a Diretoria Executiva do Instituto.

Gestão compartilhada – A líder de finanças disse gostar de trabalhar no modelo de gestão compartilhada, que exige delegação aos times. “Acredito que se o líder concentra tudo em si, ele pode virar gargalo dos processos e tende a limitar o desenvolvimento das pessoas lideradas”, destacou Rosangela Sutil.

A CFO explicou que essa metodologia requer pessoas muito preparadas trabalhando nas principais áreas e a criação de uma dinâmica para que o líder possa acompanhar os assuntos, por meio de checkpoints, garantindo o nível de qualidade das entregas e o atendimento dos prazos. Isso se combina a um estilo de gestão situacional. Isto é, o gestor é capaz de descer ao nível técnico para estruturar um novo processo com o liderado, e quando o fluxo está devidamente formatado, o líder volta para o nível de supervisão, entrando apenas nos checkpoints definidos.

Sobre liderança, Rosangela considera fundamental construir um time de confiança. “Um líder não existe sem os liderados. Acredito que quanto mais profissionais você desenvolve, por meio de oportunidades, meritocracia e feedback honesto, mais a sua habilidade de liderar também se desenvolve”.

¨Seja o dono da sua agenda¨, orientou Rosangela Sutil

Agenda sob controle – Outra dica importante de Rosangela é que a liderança do executivo também deve existir sobre sua própria agenda. Sem esse foco, o profissional pode ser atropelado pelas demandas de terceiros, e acabar não tendo tempo atuar nos assuntos de interesse estratégico.

“Você deve ser o dono da sua agenda, ou seja, não deixe que outras pessoas decidam por você. Você pode começar a exercitar isso, elencando o que é mais importante resolver no seu dia, na sua semana, e assim por diante, mantendo o foco nessas prioridades e evitando tratar só o que é urgente (apagar incêndios)”.

Outra dica importante da CFO é utilizar as ferramentas de comunicação com bom senso. Afinal, elas podem ajudar (ou atrapalhar) muito. “Se você não for disciplinado, pode gastar muita energia com a troca de mensagens e perder o foco do que precisa fazer. O seu mundo deve girar em torno da sua agenda, e não a sua agenda em torno do universo”, completou Rosangela, com bom humor.

Programa de mentoring – O próximo encontro de mentoria promovido pelo IBEF Jovem acontecerá com o CFO da IBM Brasil, Serafim de Abreu, em 21 de março na sede do IBEF SP. Em 12 de abril, será realizado um mentoring com CFO da Ingresso Rápido, Diego Barreto. Em 31 de maio, a mentoria será com a diretora executiva administrativa e financeira da Eurofarma, Claudia Nohara.

Para obter mais informações sobre como se inscrever no programa de mentoring, entre em contato com o Instituto pelo telefone (11) 3016-2121.

(Reportagem: Débora Soares / Fotos: IBEF SP)

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