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Problemas macroeconômicos começam a afetar microeconomia

Confira entrevista concedida pelo presidente do IBEF SP ao Estadão Broadcast.

Do Estadão Broadcast (09/03/2015)

Por Francisco Carlos de Assis

Os problemas estruturais de ordem macroeconômica que levam o Brasil, há mais de uma década, a manter os juros altos para combater a inflação – sabidamente de custos – já começam a contaminar a microeconomia do País. Na quarta-feira da semana passada o Copom aumentou a taxa básica de juro (Selic) em 0,5 ponto porcentual, de 12,25% para 12,75% ao ano. A justificativa, mais uma vez, foi a inflação.

Na microeconomia, os efeitos colaterais desse receituário equivocado se mostram por meio da baixa performance das empresas, das projeções de cenários ruins, enxugamento do quadro de empregados e engavetamento de projetos de investimentos. Essa é a análise que o economista José Claudio Securato fez na primeira entrevista, concedida ao Broadcast, após tomar posse na quinta-feira (5) como presidente da Diretoria Executiva do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef). Ele prevê dias ruins pela frente, com mais contaminação da microeconomia pela área macro. Assume o Ibef prevendo que a Selic ultrapassará a marca dos 13% neste ano, o câmbio entre R$ 3,15 e R$ 3,20, a inflação encostando nos 8% e aumento da taxa de desemprego.
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Abaixo, os principais trechos da entrevista:
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Broadcast – O senhor assume a presidência do Ibef um dia após o Copom elevar a taxa Selic a 12,75% ao ano. A política monetária tem atingido o seu objetivo?
José Claudio Securato – Não, porque o objetivo dos aumentos do juro é o combate à inflação. O Brasil tem um problema estrutural há mais de uma década que é manter juro alto para combater a inflação. Só que nossa inflação é de custo. Não é de demanda. O efeito sobre ela é fundamentalmente de câmbio, que faz pressão sobre preços administrados por contratos, monitorados e commodities.
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Broadcast – A taxa de juro no Brasil é mais uma consequência ou é a causa dos problemas?
Securato – É mais uma consequência. Se o governo tivesse feito a lição de casa no primeiro mandato da presidente Dilma, certamente a gente estaria em uma situação fiscal mais confortável. Já teríamos endereçado a questão da inflação. Se o governo tivesse usado o sistema de metas de inflação, perseguindo o centro e não jogado com a regra e deixado ela na ponta da meta só para seu cumprimento, certamente a gente não teria que fazer um esforço de juro tão grande.
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Broadcast – O governo conduziu bem a questão da inflação? Qual a previsão do Ibef para a inflação neste ano?
Securato – Houve leniência do governo em relação à inflação. Deixou chegar a 7% na conta de 12 meses e o preço disso é uma taxa de juro que, se a previsão antes era de chegar a 13%, agora passamos a vê-la um pouco mais alta. Não sei quanto de coragem o governo vai ter para aumentar a Selic para dar uma resposta à inflação, mas dá para pensar no IPCA em 8%.

Broadcast – O dólar bateu em R$ 3,00 na semana passada. Esse é o teto?
Securato – É difícil fazer projeção para o câmbio em dezembro com precisão. Mas o dólar vai romper a barreira dos R$ 3,00. Uma taxa de R$ 3,15, R$ 3,20 é algo que a gente consegue enxergar pensando no cenário com as informações que temos agora.

Broadcast – Qual o impacto de um câmbio entre R$ 3,15 e R$ 3,20?
Securato – Vai refletir nos preços administrados, monitorados e nos preços das commodities. E o governo usa a única medida que tem, que é juro. Mas essa política tem um efeito colateral gigantesco para o País em todos os aspectos. Tem custo fiscal porque nossa dívida é indexada ao juro. O ajuste fiscal está cada vez mais difícil. Na parte que o governo tem liberdade para cortar, ele está conseguindo, mas na parte que depende do Congresso está havendo uma barreira política fortíssima. Então, o ajuste fiscal se torna mais difícil e mais caro.

Broadcast – Dê exemplos.
Securato – Na macroeconomia a gente já está vendo o que está acontecendo. A previsão de PIB do Ibef é de uma queda de 1,5% para 2015. O mercado está com retração de 0,66% (Focus de hoje), mas achamos que vai derreter. O emprego vai começar a deteriorar. O que a gente plantou no primeiro para o segundo trimestre é muito ruim. O empresário vai ter que responder a isso porque vai começar a perder dinheiro. E vai demitir.

Broadcast – O senhor acredita que a meta de superávit primário de 1,2% do PIB será entregue?
Securato – Se o ministro (Joaquim Levy) continuar com o trabalho que fez nos meses de janeiro e fevereiro, sim. A minha grande ressalva é se ele continua na cadeira com a mesma liberdade, com o mesmo mandato e se a pressão em torno da presidente Dilma em relação ao tema vai ser superada.

Broadcast – Está vendo alguma coisa que possa levar o Levy a pegar o chapéu e ir embora?
Securato – Ainda não. Mesmo com o episódio da semana passada com relação à desoneração acho que o mandato dele está firme. Ele está certo, a desoneração da folha foi uma brincadeira que só foi boa para os empresários. Não houve contrapartidas. Ninguém teve que manter emprego para ter desoneração. O governo não sabe fazer acordos.

Broadcast – Como o senhor viu o rebaixamento da nota de crédito da Petrobras?
Securato – A gente pode ter um posicionamento da Standard & Poor’s (S&P) seguindo a Moody’s. É uma situação bem tensa que começa reunir motivos para piorar também a nota do País. O governo precisa apresentar uma solução para a Petrobras o quanto antes possível para resolver o problema de governança corporativa. Endereçado este tema, a companhia em si é muito boa.

Broadcast – Quando tempo essa crise pode durar?
Securato – Acho que o governo não consegue apresentar uma solução antes do segundo trimestre. O primeiro vai ser um trimestre para decidir. Não sei se vai ser maio ou junho, mas o governo vai ter que decidir. Estão trabalhando na questão dos balanços e precisa divulgá-los logo. Tem que realinhar o plano de negócios porque o preço do petróleo no patamar de agora inviabiliza o pré-Sal e a expansão que justificou a grande alavancagem da empresa perde o sentido.

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