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Os ensinamentos que podemos extrair do anúncio dos novos conselheiros da Starbucks

GOVERNANÇA

 

Por Luiz Calado, economista e vice-presidente de Relações Institucionais do IBEF SP.

 

 

Recentemente, a Starbucks anunciou um plano para adicionar três novos membros ao seu conselho de administração. Nenhuma grande notícia, certo? Vamos adicionar algum contexto.

Como relatado pelo jornal The New York Times, os indicados são:

  • Rosalind Brewer, uma mulher afro-americana que é presidente e executiva-chefe do Sam’s Club e vice-presidente da Walmart Stores;
  • Jorgen Vig Knudstorp, o presidente executivo dinamarquês do Lego Brand Group;
  • Satya Nadella, um indiano-americano que é executivo-chefe da Microsoft Corporation.

Com as adições, o conselho da Starbucks cresceria para 14 pessoas; seria 29% de mulheres e 36% de minorias étnicas, e incluiria uma gama de idades de milênios a “baby boomers”, outro fato raro, pois geralmente a idade dos membros do conselho é bem avançada, sua composição costuma ser exclusiva com este perfil.

Porém, você deve estar pensando, por que a mais famosa rede de cafés do mundo merece ser tema de um artigo? Veja, a Starbucks sempre manteve o foco e a paixão por seus clientes e as comunidades em que faz negócios.

Nós ouvimos muito sobre a diversidade hoje em dia. Mas em quantas empresas isso é realmente levado a sério, colocando diversidade nas lideranças, nos postos mais altos? Mulheres, minorias étnicas e jovens na administração, por exemplo? Não uma ou outra, mas uma quantidade considerável, 50%…

Sou bastante versado no ambiente multicultural: meu doutorado foi feito na Alemanha e Argentina, meu pós-doutorado nos EUA. Já conheci mais de 20 países a trabalho, e o triplo disso a turismo.

Aprender a ver o mundo através de diferentes conjuntos de olhos ajudou a me relacionar com todos os tipos de pessoas diferentes ao longo dos anos e a desenvolver ideias incríveis. Conhecer culturas e origens oferece maiores oportunidades de aprendizado ao permitir entender os vários pontos de vista, diferentes formas de fazer um trabalho e maior flexibilidade de ações. Assim, comparei minha visão de mundo de brasileiro e percebi que muitas das soluções, e dos problemas, são os mesmos nos diferentes países.

Voltando à Starbucks, por que a estratégia da empresa é vencedora, na minha opinião? A rede deixou de ser somente uma empresa norte-americana há muito tempo. Sua expansão em mercados emergentes, seu público diversificado, trazem à tona o questionamento – será que o conselho está preparado para expansão? Veja, agregando pessoas com características dos países onde ela está expandindo, certamente destaca-se como um passo no caminho correto! Ou seria melhor que o conselho fosse formado exclusivamente por senhores com mais de 65 anos, norte-americanos?

Mas o aprendizado com pessoas de diferentes origens, culturas e faixas etárias realmente permite aprofundar relações de uma empresa multinacional, como esta, e sua política de expansão? Entendo que somente seja possível avançar com êxito em novos mercados conhecendo as dificuldades e interesses econômicos e sociais daquele local. E nada pode ser melhor para uma organização que deseja ter a conexão com pessoas desses locais do que incluí-los em sua governança, efetivamente com poder de decisão, como Starbucks acaba de reforçar, num dos níveis mais altos da sua organização.

Quer ver um resultado da diversidade? A Starbucks anunciou um plano para a contratação de 10 mil refugiados – e fez isso enquanto os EUAs fecham fronteiras para a diversidade cultural e interrompem o recebimento de refugiados!

E essa é a lição: À medida que você aprende mais com os outros, não só os entende melhor e fica mais fácil se relacionar, como obtém benefício que se estende muito além do negócio: você quebra barreiras a mudanças e permite-se evoluir.

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